
Setenta por cento dos alunos do Ensino Médio utilizam inteligência artificial generativa em pesquisas escolares, de acordo com a mais recente edição da pesquisa TIC Educação, divulgada pelo Centro Regional de Estudos para o Desenvolvimento da Sociedade da Informação (Cetic.br). O estudo, realizado entre agosto de 2024 e março de 2025, revela que ferramentas como ChatGPT, Copilot e Gemini já são realidade para a maioria dos estudantes brasileiros, embora apenas 32% tenham recebido orientação formal sobre seu uso educacional.
A pesquisa detectou ainda que plataformas de vídeo se consolidaram como ferramentas de busca tão relevantes quanto os mecanismos de pesquisa tradicionais, com 72% dos estudantes recorrendo a canais e aplicativos de vídeo para realizar trabalhos escolares. Esse comportamento é ainda mais expressivo quando considerados todos os níveis de ensino: 37% dos alunos do Ensino Fundamental e Médio utilizam IA generativa, mas apenas 19% receberam orientação pedagógica sobre como aplicá-la em atividades de aprendizagem.
Desafios na mediação pedagógica
A falta de formação específica para o uso crítico dessas tecnologias preocupa especialistas. Renata Mielli, coordenadora do Comitê Gestor da Internet no Brasil (CGI.br), alerta para os riscos de viéses e desinformação: “Precisamos compreender com maior profundidade de que forma está se dando este uso numa idade escolar que envolve processos de ensino e aprendizagem sobre contextos culturais, sociais e econômicos”.
A formação docente mostra-se insuficiente para lidar com esses novos desafios. Apenas 54% dos professores realizaram atividades de desenvolvimento profissional relacionadas ao uso de tecnologias digitais nos últimos 12 meses, com percentual ainda menor na rede municipal (43%). Temas como educação midiática (68%) e uso de IA em atividades educacionais (59%) foram os menos abordados nas iniciativas de formação.
Avanços e desigualdades na conectividade
A pesquisa registrou progressos significativos na conectividade das escolas: 96% das instituições possuem acesso à Internet, com crescimento especialmente relevante nas escolas municipais (94%) e rurais (89%). Entretanto, persistem desigualdades no acesso dos estudantes: enquanto 67% dos alunos da rede estadual utilizam Internet para atividades escolares, na rede municipal esse índice cai para 27%.
Regulação do uso de dispositivos móveis
Os dados reflectem o período anterior à implementação da Lei nº 15.100/2025, que restringe o uso de celulares em escolas. Já em 2024, observou-se redução no acesso à Internet por meio de celulares pessoais (de 55% para 45%), com aumento das escolas que proíbem totalmente o dispositivo (de 28% para 39%).
O gerente do Cetic.br, Alexandre Barbosa, resume o desafio: “Os dados reforçam a urgência de discutir não apenas o acesso, mas como promover o uso crítico, seguro e criativo das tecnologias digitais para a aprendizagem”. A pesquisa ouviu 9.803 estudantes, 4.252 professores e 1.665 coordenadores pedagógicos em todas as regiões do país.




















