Eleições no Brasil: O que as pesquisas nos dizem? Elas são confiáveis?

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Foto: Fernando Frazão/Agência Brasil

Em pouco mais de dez dias, os brasileiros vão às urnas para eleger o próximo presidente da República, além de governadores, senadores e deputados. A cada semana, neste período que antecede as eleições de 2022, várias pesquisas eleitorais de intenções de voto são divulgadas no país. Mas o que essas pesquisas mostram? Elas são confiáveis?

As pesquisas de intenção de voto retratam o eleitorado no período em que seus dados são coletados e, portanto, não são e nem devem ser utilizadas como prognóstico para os resultados eleitorais.

Se vistas dessa forma, o eleitor brasileiro pode confiar na maioria das pesquisas eleitorais divulgadas no Brasil, principalmente por aquelas conduzidas por grandes institutos de pesquisa no país. Essas são realizadas utilizando métodos científicos que vêm sendo desenvolvidos e aprimorados ao longo dos últimos 80 anos, inclusive por diversos pesquisadores do Survey Research Center, da Universidade de Michigan.

Pesquisas eleitorais e de opinião pública seguem rigorosos métodos estatísticos e protocolos de coleta de dados a fim de permitir inferências estatísticas para a população por meio de dados coletados em uma amostra da população. Já enquetes não se utilizam de tais métodos e protocolos e normalmente ficam disponíveis em websites ou redes sociais para qualquer pessoa respondê-las. Isso pode acabar gerando vieses em seus dados que não permitem realizar extrapolações de seus resultados para a população.

Claro que diferentes tipos de metodologias trazem diferentes implicações para os resultados das pesquisas. Por exemplo, pesquisas telefônicas não conseguem capturar pessoas sem acesso a telefone. Se essa parte da população for sistematicamente diferente daqueles que têm acesso com relação ao tópico que está sendo estudado, então as estimativas da pesquisa podem estar enviesadas. É importante avaliar como aspectos metodológicos das pesquisas impactam seus resultados.

Idealmente, em amostragem, gostaríamos que todos os elementos da população tenham uma probabilidade de seleção conhecida e maior que zero e que o sorteio da amostra seja feito de forma aleatória, propriedades que descrevem o que chamamos de amostragem probabilística. No entanto, na prática isso nem sempre é possível, por decorrência de certas restrições de custo e tempo, como normalmente é enfrentado por pesquisas eleitorais e de opinião pública. Nesse caso, algumas estratégias podem minimizar possíveis vieses associados a um processo de seleção não-aleatório da amostra. Uma das principais estratégias adotadas em pesquisas eleitorais para isso é o uso de cotas sociodemográficas na seleção dos respondentes, em que a amostra é recrutada de forma a ter uma distribuição com respeito a sexo, idade, escolaridade, renda e região igual ao da população.

Costumamos dizer que pesquisas são um retrato do momento, ou seja, elas procuram refletir a população no período em que são coletadas. Caso haja mudanças na opinião ou preferências da população em algum momento após esse período, as pesquisas realizadas previamente não serão capazes de capturar essas alterações. Por isso que também costumamos chamar a atenção de que pesquisas não servem e nem devem ser usadas como prognósticos. Mesmo que um determinado candidato esteja à frente em uma pesquisa eleitoral realizada dias antes da eleição, isso não deve ser visto como uma previsão de que esse candidato mantenha essa posição no pleito eleitoral. Por outro lado, uma série de pesquisas eleitorais realizadas ao longo do tempo podem servir para identificar certas tendências do eleitorado, como um possível crescimento ou queda na intenção de votos em um candidato.

Raphael Nishimura é brasileiro, estatístico e diretor de Operações de Amostragem do Survey Research Center da Universidade de Michigan.

Contexto Livre é uma coluna rotativa, de assuntos diversos escrita por pessoas bacanas que tenham algo legal ou inspirador pra compartilhar.

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