Todos esses que aí estão
Atravancando meu caminho,
Eles passarão…
Eu passarinho!
Mario Quintana
Na Páscoa fomos visitar Porto Alegre. Sábado, ainda pela manhã, saímos da Zona Sul, percorremos a orla do Guaíba, estacionamos perto da Praça da Matriz e descemos caminhando até a Praça da Alfândega, rumo ao Mercado Público.
O dia estava começando, as calçadas ainda vazias e úmidas. Quando entramos na Rua da Praia senti a brisa do rio e com ela veio a imagem de Mario. Olhei para o miolo da praça e o senti. Ele paira no ar. Está para Porto Alegre assim como Oscar Niemeyer para Brasília, como Vinícius de Moraes para o Rio de Janeiro, e poderia citar outros nomes e lugares.
A vida, no formato que a conhecemos, e a suposta finitude, juntas, se colocam num espaço de dor e angústia. Mas como reclamar depois de tanto? Rita Lee descansou, conviver com a doença é um inferno, talvez um preço, não entendo. Ninguém no mundo merece estar na cama, definhando, disso sou convicta.
Não que seja fácil, mas é necessário dar um significado para a vida como se não dispuséssemos do amanhã. Usufruir do tempo que nos serve, com amor, generosidade e esperança. Rita, Mario, Oscar, Vinicius e alguns outros são exemplos de seres que viveram intensamente e usaram seu tempo para falar daquilo que interessa.
O tal legado é muito maior do que um prédio, uma música ou uma poesia. É um presente para o coletivo, é mostrar o caminho possível em meio ao caos. Sinceramente, morrer não parece um grande problema quando a vida toma ares de penitência. Tudo depende do hospedeiro.
A vida, o tempo, as razões precisam convergir para a construção de um mundo onde possamos nos desenvolver plenamente. E, quem sabe, um dia, fazer parte da imaginação de outras pessoas.