Pesquisador de Brasília desembarca no Ártico

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Foto: Divulgação

Estudo de musgos que sobrevivem a condições extremas podem trazer resultados promissores para o agronegócio e no desenvolvimento de medicamentos antimicrobianos, antitumorais e cosméticos.

O professor Marcelo Henrique Soller Ramada, de 36 anos, é um dos cinco pesquisadores que integram a primeira expedição brasileira ao Círculo Polar Ártico. À frente do Projeto Briotech da Universidade Católica de Brasília (UCB), dentro do Programa Antártico Brasileiro (PROANTAR), Ramada coordenou três expedições à Antártica para estudar os musgos que compõem a vegetação do continente mais gelado do planeta. A Operação Ártico I teve início neste sábado (8) com destino à Longyearbyen, capital de Svalbard, na Noruega. Da parte científica, além de Ramada, participam da expedição dois pesquisadores da Universidade de Brasília (UnB) e dois pesquisadores da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG).

A dedicação de Ramada aos estudos da biologia teve início há quase 20 anos, quando optou pelo curso de Ciências Biológicas na Universidade Federal de Goiás. Conquistou a graduação em 2007 e, na sequência, iniciou o mestrado na mesma área e instituição, finalizando em 2010. Natural de São Bernardo do Campo, em São Paulo, mudou para Brasília em 2012, quando iniciou seu doutorado em Biologia Molecular pela Universidade de Brasília, com período sanduíche na Universiteit Katholieke Leuven, na Bélgica, onde ficou por seis meses, concluindo o doutorado em 2016. Em 2017 entrou para o corpo docente da UCB e começou a montar seu grupo de pesquisa. Em 2020 teve a oportunidade de fazer um pós-doutorado na University of Nebraska Medical Center, nos Estados Unidos, concluído em 2021.

Foi em 2018 que o pesquisador iniciou os estudos com briófitas, analisando os musgos presentes na região do Cerrado brasileiro. Logo em seguida, enviou proposta para um edital aberto do PROANTAR, que foi selecionada. A partir de 2019, os pesquisadores do Briotech passaram a integrar todas as expedições à Antártica e coletar material para estudo. Estiveram na OPERANTAR 38 (de 2019 a 2020), na 40 (2021 a 2022) e 41 (2022 a 2023). Na OPERANTAR 39 houve consenso de todos os coordenadores de projetos brasileiros de não ir para evitar a propagação da Covid-19. Na época, a Antártica era o único local do mundo livre do vírus e ainda não havia vacina para a doença. Ramada esteve presente pessoalmente na Antártica durante a OPERANTAR 40, de novembro de 2021 a fevereiro de 2022.

A maior conquista das expedições até o momento foi conseguir cultivar briófitas da Antártica no Brasil. “Estamos conseguindo cultivar, sem contaminantes, nos laboratórios da UCB. Consideramos um resultado interessante para que possamos fazer o estudo dos genomas desses organismos, bem como para estudos de aplicações biotecnológicas”, conta, entusiasmado, o pesquisador.

Segundo Ramada, as briófitas são geralmente negligenciadas e pouco estudadas quando comparadas a outros grupos vegetais, como as fanerógamas, que são plantas que produzem flores e sementes, e que são muito mais comuns no nosso dia a dia, seja na nossa alimentação ou em parques e no meio ambiente. “As briófitas são vistas como plantinhas que crescem numa pedra, numa árvore, e parecem não ter muita relevância. Porém, elas são fundamentais para a regulação do clima ao redor do mundo porque sequestram um terço do carbono terrestre. Possuem uma complexidade e um arsenal bioquímico maior do que as plantas fanerógamas, apesar de serem bem menores e mais antigas no ciclo evolutivo. E exatamente pela simplicidade estrutural, elas precisam dessa complexidade bioquímica maior para sobreviver. São plantas extremamente resilientes ao ambiente em que estão inseridas e podem resistir a diferentes condições extremas”. É a complexidade bioquímica e a resiliência que podem gerar muitos frutos positivos na pesquisa com briófitas.

Ártico I

Entre os objetivos da primeira expedição ao Ártico está o interesse em comparar as mesmas espécies de musgo que ocorrem na Antártica, que são chamadas de bipolares, e seus potenciais biotecnológicos. A pesquisa de Ramada busca encontrar métodos para inserir o uso das briófitas na fabricação de medicamentos ou mesmo no cultivo de lavouras resistentes à geada, por exemplo. “Talvez haja genes que podem fazer com que plantações não sofram tantas perdas com geadas, por exemplo. O estudo de vias metabólicas que protegem as briófitas pode ser eventualmente aplicado a outras plantas.” A UCB vai participar da coleta ativa dos musgos, extração de DNA, análise de dados genômicos, cultivo das plantas, extração de metabólitos e testes para potenciais biotecnológicos, como antimicrobianos, antitumorais, entre outros.

Outra finalidade da viagem é buscar a colaboração com outros países na pesquisa nacional. Para realizar essa diplomacia, os pesquisadores devem visitar estações científicas e produzir relatórios que possam servir aos próximos visitantes.

A Primeira Expedição Científica do Brasil ao Ártico, ou Operação Ártico l, será financiada pelo Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MC-TI), via Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), pelas Universidades participantes e tem apoio institucional do Ministério das Relações Exteriores e da Secretaria Interministerial dos Recursos do Mar da Marinha do Brasil.

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