É a primeira vez que um país latino-americano tem um representante indicado para a liderança global da organização. A eleição será no dia 2 de novembro
Nos últimos anos o Brasil está entre os cinco maiores produtores de leite do mundo. Porém, sua participação nas decisões estratégicas do setor a nível mundial sempre foi restrita e pontual. A indicação do associado Piercristiano Brazzale à Presidência da FIL/IDF pelo país abre espaço e novas perspectivas para a defesa do setor lácteo brasileiro perante o mercado global.
A possibilidade de ter na presidência da FIL/IDF um representante indicado pelo Brasil também abre o caminho para maior participação de países da América Latina na entidade.
Além de viabilizar a melhoria da qualidade e produtividade de todo o setor, que em última análise, são os dois fatores que irão por um lado proteger o mercado interno e por outro aumentar a presença do Brasil nos mercados externos
Sobre a FIL/IDF
Vale ressaltar, que a FIL/IDF tem assento consultivo na FAO (Organização para Alimentação e Agricultura), e também na OMS (Organização Mundial da Saúde). As organizações, vinculadas à ONU, lideram os esforços internacionais de erradicação da fome e da insegurança alimentar, entre outros temas de interesses mundiais prioritários.
A entidade ainda tem participação destacada no Codex alimentarius – FAO/OMS, já que ele foi fundado em 1963 segundo as bases e diretivas da FIL/IDF. Os objetivos do Codex são criar diretivas transparentes e de base científica para a qualidade e segurança dos alimentos, bem como promover e fomentar práticas justas de comércio internacional.
Um panorama do setor no Brasil
O mercado interno é a “menina dos olhos” do setor de laticínios no Brasil. A cadeia produtiva tem melhorado substancialmente em vários aspectos. Todavia, muito ainda tem que ser realizado para o aumento da sustentabilidade da produção, o que significa menor custo e elevação da qualidade média do leite e, por consequência, de produtos.
Com a evolução do setor, ganham os produtores, as indústrias e principalmente os consumidores, já que a oferta dos produtos lácteos tende a aumentar enquanto o preço diminui. E ainda possibilita o aumento das exportações, já que o Brasil participa com apenas 1% do volume de leite transacionado no mercado externo.
Quem é Piercristiano Brazzale
Pioneirismo é a palavra que melhor define Piercristiano Brazzale. O empresário italiano é engenheiro agrônomo . Sua família tem negócios no Brasil desde 1974.
Ele é CEO da Brazzale Dairy Company, a primeira indústria de laticínios da Itália, fundada em 1784. É isso mesmo, a Brazzale Spa existe antes mesmo da Revolução Francesa.
Piercristiano tem um português fluente e é líder do setor da agropecuária no Brasil, na Itália e em nível mundial, pois já parte da Fil /IDF há mais de 10 anos.
Ele sabe que o país tem um grande potencial para desenvolver o setor lácteo de forma mais dinâmica e sustentável. Mas, ainda prefere esperar a eleição para se declarar oficialmente em nome da FIL/IDF. Por enquanto, conheça um pouco de sua história.
Portal Contexto.ctxt: Nos conte um pouco sobre a sua origem
Piercristiano Brazzale: Nasci na Província de Vicenza na Itália, em uma família que sempre trabalhou com leite e seus derivados desde 1784. Venho de uma família tradicional, meu pai Valentino Brazzale era engenheiro químico e minha mãe Fiorella Benetti Brazzale foi a organista mais famosa da Itália na década de 1980. Ela também foi diretora da Conservatório de Veneza, e depois de Vicenza, tendo escrito vários livros de educação musical e gravado vários discos. Recebi uma formação humanística no Liceu, e me formei em Ciências Agronômas pela Universidade de Pádua. Também me formei em música, toco trombone a tiro. Toquei por muitos anos Blues e Jazz.
Ctxt: O que o senhor faz nas horas vagas?
P B: Gosto de ficar com a minha família, sou casado e tenho uma filha de 13 anos que também faz o Liceu Científico e estuda música, ela toca fortepiano. Gosto de ficar com meus animais de estimação: tenho dois cachorros, 10 gatos e 30 canarinhos.
Também gosto de agricultura em geral, viajar, visitar museus e mostras de arte. Gosto de ler livros e revistas científicas de qualquer natureza e fico sempre me atualizando sobre as notícias veiculadas pela mídia em geral.
Ctxt: Fale um pouco sobre o pioneirismo da Brazzale que existe desde 1784 na Itália e é mundialmente conhecida pela excelência e qualidade de seus produtos.
P B: A Brazzale é uma empresa familiar, nossa família desde sempre trabalhou na produção e comércio de laticínios, a nossa genetica é focada no leite, produção e transformação. Nossa origem é da Região de Asiago, no alto dos Alpes Italianos.
Chegamos na região do Vêneto, província de Vicenza, muito pobres. O nosso grande diferencial, que nos fez crescer muito foi que fomos os primeiros a utilizarmos câmaras frigoríficas para estocar manteiga, isso entre as duas guerras. Nós vivemos perto de Thiene, uma região famosa por ser um mercado franco (livre de impostos) da manteiga desde 1492. Portanto, é um local tradicional de comércio da manteiga na Itália.
Fomos o primeiro laticínio a produzir o Grana Padano no Veneto, fora da Lombardia, região de origem, por isso somos sócios fundadores do Consórcio Grana Padano. Agora produzimos três tipos de queijo protegidos: Grana Padano (como maturadores e embaladores), Provolone Valpadana e Asiago.
Ctxt: Outro grande diferencial da Brazzale é a forte preocupação, e sucesso na preservação do meio ambiente. Como se dá o processo dentro da empresa?
P B: Sustentabilidade é a nossa cultura. Sempre focamos muito sobre o impacto do meio ambiente da produção. Nós pensamos que é a coisa mais importante porque temos que preservar os recursos ambientais para garantir a produção para as futuras gerações. É essencial que a gente mantenha o meio ambiente preservado.
A nossa filosofia é produzir, utilizando técnicas tradicionais, onde existam as melhores condições para o fazer da melhor forma, em qualquer parte do mundo.
O fundamental é a localização geográfica ótima e a disponibilidade de recursos naturais e humanos, para produzir com qualidade, a custos adequados e de forma sustentável.
Graças a esta inovação e liberdade de movimento e de negócio, os métodos tradicionais vão evoluindo dia a dia, conseguindo melhoria nos produtos finais. Um exemplo de tudo isto é o nosso Gran Moravia que se produz com técnicas tradicionais na Região da Morávia da qual se caracteriza por um meio ambiente que nos permitiu criar a cadeia eco-sustentável, obtendo um produto de qualidade extraordinária.
Fizemos muito investimento nos últimos 20 anos, focados na sustentabilidade no ano passado (2019). Somos os primeiros do mundo a receber a certificação Zero Carbono. Então todas as nossas atividades têm impacto zero de emissões de gás carbônico na atmosfera, e somos certificados nisso.
Os nossos investimentos são todos focados em aumentar a eficiência na utilização dos recursos, como por exemplo, energéticos ou de utilização da água.
Em2010, calculamos a pegada de água do nosso queijo Gran Moravia. Isso representou o primeiro cálculo da pegada hídrica de um queijo específico.
Contexto.ctxt: Nos conte sobre a sua atuação na Federação Internacional do Leite ( FIL/IDF).
P.B.: Comecei a frequentar a FIL/IDF em 2010. Em 2012 comecei a participar em quatro comitês permanentes técnicos de trabalho: SCENV (Meio Ambiente), SCDST (Tecnologias Lácteas), SCFM (Gestão de Fazendas) e SCNH (Nutrição e Saúde).
Desde 2018 sou presidente do Comitê de Coordenação de Ciência e Programas (SPCC), e agora indicado à presidência mundial da FIL/IDF. Mas disso vamos falar só depois de novembro, caso eu seja eleito.
Contexto.ctxt: E o Brasil? Quando e como o país entrou na sua vida?
P.B: Minha família investe no Brasil desde 1974. Éramos proprietários da Fazenda São Marcos na cidade de Costa Rica no Mato Grosso do Sul. Em 2000 decidimos vendê-la.
Mas, no mesmo ano, eu e meus dois irmãos Gianni e Roberto, que são meus sócios paritários em todos os empreendimentos, compramos a Fazenda Agropecuária Ouro Branco, na cidade de Bandeirantes, também no MS, perto de Campo Grande.
Estávamos com 1800 vacas vendendo leite para Nestlé de Araçatuba, mas depois de seis anos decidimos mudar o foco da fazenda. Então convertemos a atividade da fazenda para gado de corte desenvolvendo projeto silvopastoril, um projeto de produção de carne carbono neutro.
Somos sócios do Consórcio do Novilho precoce da Famasul de Campo Grande. Desde 2019, sou Responsável pelas Relações Exteriores da ABCCN (Associação Brasileira de Produtores de Carne Carbono Neutro), a Associação Brasileira de Produtores de Carne Sustentável no Brasil.
Contexto.ctxt: Comente sobre a importância que é a participação de empresários, de forma voluntária e pessoal de uma entidade como a FIL/IDF, que participa de agências e organismos multilaterais, como OMS, Codex, FAO, OIT, OMC. O que deveria motivar os empresários do setor lácteo, como o senhor, a participar diretamente desses fóruns, ao invés de simplesmente enviar o pessoal técnico?
P B: Participar a FIL/DF é muito importante, por várias razões. A primeira é que todas as normas técnicas internacionais que são aplicadas todos dias na nossa produção da alimentação das vacas, produção e transformação do leite, até a embalagem dos produtos são feitas na FIL/IDF, só pra dar um exemplo.
Nós temos centenas de pesquisas científicas sobre o leite, sejam diretrizes tanto em nível agrícola como em nível de transformação industrial, sejam de metodologias analíticas da proteína, da gordura ou de qualquer componente que é importante para se medir a qualidade do leite. A FIL/IDF desenvolve estes estudos e os publica em forma de métodos e padrões oficiais. Eles são reconhecidos pela ISO (Organização Internacional de Padronização).
Então, a atividade da FIL /IDF influência todo o trabalho cotidiano no setor do leite. Esta é a primeira razão pela qual é importante se fazer parte disso, pra que se participe nas decisões, porque elas influenciam a sua vida cotidiana, a nossa vida de empresário de industriais e de cooperativas, além dos produtores.
A segunda razão, que é muito importante, é que você senta na mesa de trabalho com os maiores especialistas e líderes internacionais do nosso setor. Então, você vai aprender muito.
Eu, em dez anos que estou participando na FIL/IDF, melhorei muito o meu conhecimento do setor e do mercado. Isso é fundamental: quaisquer empresários, técnicos ou gestores do setor de leite devem participar ativamente da FIL/IDF.
Se você quer evoluir, quer avançar, quer ficar conectado com o mundo lá de fora para desenvolvimento do setor de leite do Brasil, isso é fundamental.
O leite no Brasil tem um grande potencial de desenvolvimento e só acompanhando e participando na vida global da FIL/IDF, uma empresa do setor pode se desenvolver na via correta.
Contexto.ctxt: Então o senhor recomenda a participação de empresários brasileiros do setor lácteo na FIL /IDF?
PB: Claro! Só tem vantagem em participar dos trabalhos da FIL/IDF. Participar da entidade é estar com acesso a informações e participar as decisões, mas também há um network que pode ajudar você e a sua empresa a crescer. Empresários brasileiros tem que participar. É um investimento sobre a própria atividade e a própria indústria.
Conteúdo produzido em parceria com www.terraviva.com.br