A velha máxima sobre a evolução da economia brasileira e sul-coreana é bem conhecida: há menos de 50 anos, o Brasil possuía uma economia mais forte que a da Coreia do Sul. No entanto, ao longo das décadas seguintes, o país asiático deu um salto exponencial, enquanto o Brasil parece ter ficado para trás. Esse contraste, muitas vezes citado como uma reflexão da importância da educação no desenvolvimento de uma nação, é ainda mais evidente quando comparamos os índices de crescimento econômico e as condições sociais dos dois países.
Nos anos 1960, a economia da Coreia do Sul tinha um PIB per capita que era cerca da metade do PIB brasileiro. No entanto, com um foco intensivo em investimentos em educação e infraestrutura, a Coreia do Sul não demorou muito para superar o Brasil nesse quesito. Hoje, a economia sul-coreana é três vezes mais forte que a do Brasil, refletindo não apenas o crescimento da produção e do mercado, mas também o impacto das políticas educacionais implementadas nas décadas seguintes.
Os resultados desse investimento em educação, iniciado pelo governo sul-coreano, são claros e de longo prazo. Enquanto o Brasil ainda enfrenta desafios estruturais, como uma baixa taxa de conclusão do ensino médio, a Coreia do Sul colhe os frutos de uma população altamente qualificada. De acordo com dados da pesquisa Education at a Glance — 2024, promovida pela Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), apenas 1% da população sul-coreana entre 25 e 34 anos não possui o ensino secundário completo. Em contrapartida, no Brasil, o número de jovens na mesma faixa etária sem um diploma de segundo grau chega a 27%. Essa disparidade educacional reflete, de forma direta, as dificuldades que a população brasileira enfrenta para acessar melhores oportunidades no mercado de trabalho.
A relação entre educação e emprego não é uma novidade. Países com maior taxa de escolaridade tendem a apresentar melhores índices de empregabilidade, enquanto aqueles com baixos níveis educacionais enfrentam desafios econômicos maiores. No Brasil, a taxa de desemprego está em 6,4%, um número consideravelmente superior aos 2,7% registrados na Coreia do Sul. Esse abismo no mercado de trabalho se agrava com o aumento da desigualdade social e da vulnerabilidade de uma parte significativa da população. A falta de acesso a uma educação de qualidade limita as oportunidades de emprego e, em muitos casos, leva os indivíduos a buscar alternativas no crime, como apontam diversas análises sobre a relação entre criminalidade e baixa escolaridade.
A educação no Brasil, embora tenha avançado nas últimas décadas, ainda enfrenta desafios enormes para ser inclusiva e capaz de transformar a realidade de milhões de jovens e adultos. Em entrevista ao podcast PRODECAST, o advogado e ex-Procurador e Promotor de Justiça, Dr. Augusto Rossini, destacou que a educação precisa ser inclusiva para realmente impactar a redução das desigualdades sociais e econômicas. Segundo ele, um sistema educacional que não oferece igualdade de oportunidades para todos, especialmente para as populações marginalizadas, contribui diretamente para o aumento da violência e da exclusão social.
A reflexão sobre o modelo educacional da Coreia do Sul e sua comparação com a realidade brasileira serve como um alerta. A educação, quando bem aplicada, pode ser o maior motor de transformação social e econômica. Enquanto a Coreia do Sul investiu pesadamente na educação como um pilar fundamental para o seu desenvolvimento, o Brasil, por sua vez, ainda luta para expandir o acesso à educação de qualidade para todos os seus cidadãos.
A boa notícia é que, mesmo com os desafios, há uma crescente conscientização sobre a necessidade de mudanças no sistema educacional brasileiro. Projetos, programas e iniciativas têm surgido com o objetivo de melhorar a qualidade da educação, principalmente em áreas mais vulneráveis. No entanto, para que o Brasil possa trilhar um caminho semelhante ao da Coreia do Sul, será necessário um esforço contínuo para garantir que a educação chegue a todos, independentemente de classe social ou região, para que as futuras gerações tenham acesso a melhores oportunidades de vida e de trabalho.
O exemplo sul-coreano mostra que o investimento em educação, quando realizado de forma estratégica e inclusiva, pode ser um caminho eficaz para o desenvolvimento econômico e social de um país. Se o Brasil puder fazer investimentos semelhantes em sua população jovem, e garantir que todos tenham acesso a uma educação de qualidade, o país poderá superar seus desafios e alcançar o desenvolvimento sustentável que tanto almeja.