O dia 17 de janeiro foi chamado de Dia V pelo governador João Doria
Um domingo para ficar na história. O dia começou com a reunião da diretoria da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) sendo transmitida em TV aberta e pela internet. Era o momento de anunciar se alguma vacina contra a covid-19 receberia a autorização do uso emergencial. Com ressalvas, os diretores aprovaram o uso emergencial da vacina do Butantan e a da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), que ainda espera a chegada do imunizante da Índia.
Com a aprovação, mesmo sem esperar o Governo Federal, o estado de São Paulo começou a vacinar a população contra a covid-19.
As primeiras a receber a vacina
Logo depois a aprovação, o governo de São Paulo deu início a campanha de vacinação. Duas profissionais de saúde foram escolhidas para receber a vacina. Mônica Calazans, de 54 anos, é intensivista do Instituto Emílio Ribas e se emocionou ao ser vacinada. “Não é apenas uma vacina. É o recomeço de uma vida que pode ser justa, sem preconceitos e com garantia de que todos nós teremos as mesmas condições de viver dignamente, com saúde e bem-estar”, afirmou a enfermeira, que é obesa, hipertensa e diabética.
Já Vanuzia Costa Santos, além de ser técnica em enfermagem e assistente social, representou a população indígena do país. Ela é moradora da aldeia multiétnica Filhos Dessa Terra e disse: “fiquei muito feliz de participar deste momento. Sou defensora da vida, de outras vacinas, da prevenção e da saúde. Devemos valorizar a educação, a ciência, e isso pode ser conciliado mantendo uma crença, com as rezas e a medicina tradicional do meu povo”.
Dia V
“Hoje é o dia V, é dia da vacina, é o dia da vitória”, foi assim que João Doria começou a coletiva realizada na tarde de ontem após a vacinação de Mônica Calazans. O governador lembrou das vidas que foram perdidas no país por causa da covid-19 e celebrou o trabalho dos profissionais da linha de frente que há 10 meses salvam vidas, “estes são heróis”, disse.
Doria ainda lembrou dos participantes da fase 3 do estudo clínico conduzido pelo Butantan, “a coragem desses quase 13 mil voluntários vai ajudar a salvar vidas”.
O governador fez duras críticas e disse que o dia V marca “o triunfo da ciência contra os negacionistas, contra aqueles que preferem o cheiro da morte”. Ele ainda ironizou o presidente Jair Bolsonaro ao repetir algumas frases ditas pelo chefe do executivo ao longo dos meses anteriores: “E daí? Toma cloroquina que passa”, disse.
Muito emocionado, Dimas Covas, diretor do Butantan, falou que a vacina representa a luz no “obscurantismo profundo” em que o país se encontra, “em algum momento nos erramos como civilização”.
Rebatendo as críticas sobre a eficácia da vacina do Butantan, Covas afirmou que “a melhor vacina é a que chega ao braço das pessoas”, e ainda destacou que “a vacina que foi negada é a vacina que começa a salvar vidas e começa a ser aplicada na sala ao lado”.
Dimas Covas mudou o tom e lembrou que a burocracia atrasaram a vacinação, “se não fosse essas barreiras, estaríamos vacinando em dezembro”, instantes depois, ele disse: “me desculpem o desabado, mas eu tenho direito de desabafar nesse momento, meu papel é defender a vida”.
Número total de vacinas
Dimas Covas confirmou que recebeu o ofício do Ministério da Saúde solicitando a entrega de todas as vacinas do instituto. Entretanto, ele não entendeu, o que chamou de novo procedimento, e não achou necessário o retrabalho de entregar todas as vacinas e aguardar a devolução da parte de SP.
Assim, logo que Anvisa autorizou o uso emergencial e já sabendo a quantidade que seria destinada ao Estado de São Paulo, o Butantan fez a separação de parte para o centro de distribuição de SP e encaminhou a parte do Governo Federal para Guarulhos.
A quantidade de vacinas foi informada por Covas, segundo ele, 1.357.640 milhão foram destinadas ao Estado de SP e 4.636.936 milhões de doses ficaram para o governo federal, sendo assim, tem-se um total de 5.994.576 milhões de imunizantes.
Críticas ao Ministro Pazuello
No mesmo momento da coletiva paulista, o ministro da Saúde concedia uma entrevista no Rio de Janeiro, e logo no início Pazuello chamou o evento em SP de “jogada de marketing”.
Ao abrir para as perguntas dos jornalistas, um dos profissionais questionou o governador sobre a declaração de Pazuello, mas usou o profissional acabou usando o termo ‘golpe de marketing’, o que irritou João Doria. Ele respondeu: “o Governo Federal fez um golpe de morte, isso sim, um golpe na vida dos brasileiros”.
Em outro momento, Doria disse que “o ministro é inacreditável” e mais críticas foram feitas. Acusações sobre faltar com a verdade e o desrespeito com o trabalho de todos os envolvidos no desenvolvimento da vacina. Instantes depois, o governador pediu para o ministro, “tenha um pingo de humildade para reconhecer o esforço dos brasileiros”
As críticas a postura do ministro da Saúde seguiram com as palavras de Dimas Covas, que apontou diferenças entre militares e médicos. “Nós fomos preparados a vida inteira para salvar vidas e muitas vezes para atuar em campos de batalha para recuperar os estragos feitos pelas armas usadas pelos militares”
Legalidade
Outro tema comum nas duas coletivas foi a legalidade da retenção das doses do Butantan pelo Governo de SP. Para o ministro Pazuello, todas as doses precisariam ser entregues ao Governo Federal e se isso não fosse feito, o jurídico seria acionado e poderia configurar quebra de contrato.
A resposta do governo de João Doria veio com a fala da Procuradora Geral do Estado, Lia Porto, e ela foi categórica, “a Procuradoria Geral do Estado estudou todas as leis, o Plano Nacional de Imunização, o contrato com o Ministério da Saúde e não vê nenhum óbice jurídico para iniciarmos na data de hoje (17) e agirmos do jeito que estamos agirmos. Então do ponto de vista legal, a Procuradoria Geral do Estado entende que nós cumprimos exatamente a legislação e as regras postas”, explicou.