Reforma tributária: veja o que muda com o projeto aprovado pela Câmara

Foto: José Cruz/Agência Brasil/Arquivo

Texto regulamenta o Comitê Gestor do IBS e traz impactos para diversos setores da economia

A Câmara dos Deputados concluiu a votação do segundo e último projeto que regulamenta pontos centrais da reforma tributária. O texto trata da gestão e fiscalização do novo Imposto sobre Bens e Serviços (IBS) e também regulamenta o Imposto sobre Transmissão Causa Mortis e Doações (ITCMD). A proposta agora segue para sanção presidencial.

O que é o IBS e como será administrado

O IBS foi criado para unificar dois tributos existentes:

  • ICMS (estadual);
  • ISS (municipal).

A arrecadação, fiscalização e distribuição do IBS ficarão sob responsabilidade do Comitê Gestor do IBS (CG-IBS), com representantes da União, estados e municípios. Entre as atribuições estão:

  • coordenar arrecadação e fiscalização;
  • definir metodologia e cálculo da alíquota;
  • distribuir recursos entre os entes federativos.

Transição e financiamento do Comitê Gestor

A transição das alíquotas ocorrerá de 2027 a 2033, com redução escalonada dos percentuais do ICMS e ISS. A União financiará a instalação do Comitê com até R$ 3,8 bilhões entre 2025 e 2028. A partir de 2029, o próprio IBS financiará o CG-IBS com percentuais adicionais ao tributo.

Split payment e modernização fiscal

O Comitê também será responsável pela implementação do split payment, sistema que registra automaticamente as operações comerciais das empresas, nos moldes da declaração pré-preenchida do IR, reduzindo sonegação e erros.

Alíquota zero para medicamentos

A proposta institui um modelo flexível para a lista de medicamentos isentos de IBS e CBS. A cada 120 dias, o Comitê Gestor e o Ministério da Fazenda, com consulta ao Ministério da Saúde, divulgarão a lista atualizada. Entre os medicamentos isentos estão os destinados ao tratamento de:

  • doenças raras;
  • câncer;
  • diabetes;
  • Aids/HIV;
  • doenças cardiovasculares;
  • medicamentos do Farmácia Popular.

SAFs e futebol

As Sociedades Anônimas do Futebol (SAFs) permanecerão com a tributação atual de 3%, em vez da elevação para 8,5% prevista anteriormente. Entidades desportivas seguem com redução de 60% nas alíquotas gerais.

Bebidas açucaradas e vegetais

A Câmara rejeitou o teto de 2% para o Imposto Seletivo sobre bebidas açucaradas. Já as bebidas vegetais terão redução de 60% nas alíquotas dos novos tributos.

Plataformas digitais

Marketplaces e plataformas de vendas on-line poderão ser responsabilizados solidariamente caso os vendedores não emitam nota fiscal.

Benefícios para pessoas com deficiência

Foram aprovadas mudanças nos benefícios fiscais para pessoas com deficiência:

  • teto do valor do veículo com isenção sobe de R$ 70 mil para R$ 100 mil;
  • prazo para troca do veículo cai de quatro para três anos.

ITCMD e ITBI: heranças e imóveis

O texto regulamenta o ITCMD com alíquotas progressivas conforme o valor da transferência. Para o ITBI, os municípios poderão aplicar alíquota menor se o contribuinte pagar antecipadamente. O valor de referência passa a ser o valor venal de mercado.

Setor financeiro: novas regras e alíquotas

A alíquota combinada de IBS e CBS para serviços financeiros será de:

  • 10,85% em 2027 e 2028;
  • 11% em 2029;
  • 12,5% em 2033.

Durante a transição, haverá redutores temporários caso haja sobreposição com o ISS. Programas de fidelidade passam a seguir o mesmo regime.

Importação de serviços financeiros

Fica mantida a alíquota zero para importação de serviços financeiros ligados a:

  • câmbio;
  • emissão de títulos;
  • captação de recursos no exterior.

Empresas não poderão gerar créditos de IBS/CBS em operações de empréstimos com moeda estrangeira, para evitar transferência da base de cálculo para fora do Brasil.

Próximos passos

Com a votação concluída na Câmara, o projeto segue para sanção do presidente da República. As medidas integram a transição para o novo sistema tributário, que será implementado gradualmente.