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Em busca do caminho do meio


Gostaria de pedir que você leia as próximas palavras de coração aberto, sem extremismo e sem preconceito. Vamos deixar as máscaras e as bandeiras de lado por um instante, combinado?

Hoje quero trazer algumas provocações e reflexões sobre o momento em que vivemos.

Para começar, preciso te perguntar: quanto vale a vida?

As seguradoras sabem fazer alguns cálculos, mas será que a sua existência tem um preço?

Minha segunda pergunta é: o que é essencial para você?

As respostas vão nos ajudar a formar dois grupos e o surgimento de duas categorias não pode ser empecilho para as próximas reflexões, bom, talvez seja, mas vamos prosseguir. 

Sei que a resposta do que é essencial varia entre: carreira, cuidar da família, contemplar a natureza, assegurar o mínimo para a sobrevivência, criar belos posts para Instagram e assim vai.

Mas se a resposta pode ser diversa, como apenas duas categorias se formam? 

Simples, um grupo se encaixa dentro do material e o outro dentro do espiritual, ou melhor, temos um embate entre o ter e o ser.

Quando o dinheiro ou os bens materiais se tornam uma prioridade, geralmente, não se enxerga além disso. E todas as ações são consciente ou inconscientemente tomadas para a finalidade de ter cada vez mais.

Por outro lado, se o ‘ser’ é a prioridade, o ‘ter’ se torna o meio e não a finalidade da existência. Como assim? O material é importante, afinal, é importante ter comida na mesa e ter uma moradia, mas não é isso que define as ações. 

Os bens são vistos entendidos pela utilidade e não pela necessidade de ter por status. Pode se entender melhor quando se olha para os minimalistas ou para a própria filosofia budista que nos mostra isso: eu preciso ter um copo para beber água, mas eu não preciso ter 500 copos. 

Bom, percebo que estamos no meio deste dilema do ter e do ser.

Pandemia

A pandemia impactou a todos. De forma diferente e isto é óbvio. Afinal, o dinheiro ou o poder separa as pessoas. Mas todos nós fomos impactados pelas restrições econômicas, pela proibição de ir e vir, ou pelo medo e por ter que lidar com tantos outros sentimentos.

Agora, eu percebi um detalhe com o coronavírus: não há atalhos, não há ‘free riders’. Termo que me remete às aulas de economia na universidade, na tradução livre: os caroneiros. 

Basicamente, o caroneiro é aquele que não faz nada e recebe o benefício. Lembra nos tempos de escola quando um colega nem tinha feito o trabalho, mas recebeu 10 porque o nome foi incluído, e tal? É um pouco isso.

Contudo, o coronavírus não permite caroneiros. Não adianta você usar máscara, álcool em gel e seguir as orientações das autoridades de saúde e dividir a casa com alguém que nega todos os cuidados e faz festa, aglomera…

O vírus precisa parar de circular, ou circular menos, para que os número de casos e de hospitalizações caiam. E isso só vai acontecer com o esforço de todos nós, ou de uma grande maioria. 

Os protestos

Retratos da pandemia. Ruas vazias em Pelotas, RS. Foto: Rodrigo Chagas/Fotos Públicas

Eu vi muitos protestos contra as últimas medidas restritivas. Eu não gosto do fechamento também, senti na pele os efeitos negativos e eu entendo os protestos.

Mas não se pode ser simplista. Não fecha, basta aumentar o número de leitos ou colocar mais ônibus para rodar.

Não sei e não acho que pode ser por aí. 

Precisamos evitar o contágio e com isso, evitar o sofrimento das pessoas. A covid-19 é uma doença imprevisível e não é possível seguirmos repetindo certos discursos. Certamente, você já ouviu por aí: tudo bem se ‘pegou’ o vírus, morreu porque tinha doença ou ainda, estava velho mesmo, não é? 

Vamos olhar um pouquinho além? Olhemos para o outro lado, aliás, para o lado de dentro dos hospitais. Lá estão profissionais cansados emocionalmente e fisicamente.

A luta é cansativa e não é exclusiva dos profissionais de saúde, ela é todos, todos nós estamos em uma batalha, eu não sei qual é a sua, mas eu sei que você está lutando para seguir de pé.

Novos modelos de negócio?

Falando ainda sobre os protestos contra o lockdown, sei que o empresário pensa no investimento e eu não quero condenar ninguém aqui por isso. Quero aqui propor um caminho. 

– Qual seria a solução mágica? 

Não existe magia, mas podemos falar em bom senso. Precisamos largar os radicalismos, as paixões, a histeria e tentar trilhar o ‘caminho do meio’. Nem tanto ao céu, nem tanto à terra, sabe? Talvez seja a nossa oportunidade de criar negócios sustentáveis, no sentido de que é possível seguir trabalhando, produzindo, mas sem descuidar de si e do próximo. 

Faço aqui um parênteses, eu até contei a história de três empreendedores que conseguiram crescer em 2020, e eles fizeram isso com planejamento e dedicação ao propósito, em essência, a prioridade deles, em essência, é cuidar do próximo.

Pausa feita, voltemos, bom, passamos 2020 falando da necessidade da digitalização, e mais empresas entenderam que era fundamental ter uma presença na Internet. Outros exploraram o delivery, artistas começaram a fazer shows online e com venda de ingresso. 

Ainda tivemos no ano passado o movimento #FiqueEmCasa, e adoção do modelo remoto de trabalho, o home-office ou teletrabalho.

Infelizmente, alguns acreditaram que home office era folga e por isso, outros se colocaram contra esse modelo.

Eu entendo que o home office pode dar mais liberdade, e a autogestão é um grande desafio para empresas e colaboradores. E quem leva esse modelo à sério sabe como é difícil ter que lidar com as pressões pessoais e com as responsabilidades profissionais. Enfim, é um formato modelo interessante, mas que pode ser muito exaustivo, especialmente, se não for possível encontrar um equilíbrio.

Percebe que existem muitas soluções para que a economia siga rodando? O presencial é maravilhoso, mas deixou de ser obrigatório. Ele não define mais o sucesso de um negócio.

A política nacional

Não há um movimento harmônico entre os atores políticos no país, e isto é extremamente preocupante. Dizem que o inimigo é um só, mas não está sendo bem assim.

Na semana passada em uma live, o presidente da República optou por falar de uma enquete que questionava o uso da máscara facial na Alemanha. Era uma enquete, ou seja, não seguia nenhuma metodologia científica, sem o menor embasamento.

Essa fala traz diversas consequências e uma delas afeta diretamente a economia. Como assim? 

Sem uso de máscara ou sem seguir as recomendações de saúde, mais pessoas ficarão doentes, com isso, a rede hospitalar fica pressionada e famílias perdem renda, pois muitos brasileiros, hoje, não estão contemplados pela CLT, muitos são autônomos, PJ, MEI… Ou seja, se não trabalhar, não come. se ficar doente, não recebe. Sem renda, como fica a economia? 

Governadores e prefeitos estão sufocados e precisam adotar medidas impopulares. E a esfera federal o que está fazendo? 

Avalio que, entre outras estratégias, seria o momento de criar novas linhas de crédito para empresas, repensar o programa de distribuição de renda, atuar em conjunto com estados e DF, colocar todos numa mesa e evitar a tensão.

Digo a você, independente do lado político que você esteja, a tensão entre as esferas de poder, federal e estadual, não gera nenhum vencedor. 

O que precisamos?

Ao escrever ‘o que precisamos?’, minha mente já me transporta para a canção dos Beatles e eu digo a você: sei que não está sendo fácil, mas não podemos deixar de acreditar e de agir.

Então, que tal tentarmos deixar as paixões e os radicalismos de lado e olharmos para o mesmo horizonte? Precisamos de equilíbrio, de racionalidade e de manter os pés no chão. Talvez assim, seja possível encontrarmos um caminho para todos.

Assim, se precisar sair, não se esqueça da máscara, do álcool em gel e do distanciamento. 

Lembre-se que tudo passa, cuide-se e até a próxima!

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