
Um estudo inovador da Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR) está utilizando inteligência artificial para identificar padrões ocultos em acidentes de trânsito e propor estratégias para reduzir sua gravidade. A metodologia alcançou uma taxa de acerto de até 94% na previsão de ocorrências, abrindo caminho para políticas públicas mais eficientes na prevenção de sinistros.
O cenário alarmante das estradas
Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), mais de 3,5 mil pessoas morrem por dia em acidentes de trânsito no mundo – totalizando cerca de 1,3 milhão de óbitos anuais. No Brasil, apenas em 2024, mais de 6 mil vidas foram perdidas em rodovias federais, de acordo com a Polícia Rodoviária Federal (PRF).
Como a inteligência artificial pode ajudar
Desenvolvido em parceria com a Universidade Tecnológica Federal do Paraná (UTFPR), o estudo aplicou mineração de dados e algoritmos de IA para analisar registros de acidentes no Paraná. Os pesquisadores cruzaram variáveis como:
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Perfil dos usuários
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Características da infraestrutura viária
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Condições climáticas
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Tipos de veículos envolvidos
“A metodologia identifica padrões ocultos que revelam as causas dos acidentes. Com essas informações, é possível tomar medidas como melhorar a sinalização, ajustar limites de velocidade ou corrigir problemas de drenagem”, explica Gabriel Troyan Rodrigues, doutorando da PUCPR e um dos autores da pesquisa.
Principais fatores de risco identificados
A análise de dados do DER/PR (2004-2013 e 2019-2024) apontou que:
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Presença de perímetro urbano aumenta em 90% a ocorrência de acidentes.
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Vias com múltiplas faixas (65,8%), terreno sinuoso (62,2%), áreas de ultrapassagem (56,3%), acostamentos (53,9%) e iluminação deficiente (48,2%) também elevam os riscos.
Quanto à gravidade dos acidentes, os fatores mais críticos foram:
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Zonas urbanas (93,5%)
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Baixa iluminação (62,1%)
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Velocidade elevada (44,5%)
Soluções propostas
O estudo sugere intervenções como:
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Vias de contorno para desviar o tráfego de áreas urbanas
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Passagens em desnível e radares inteligentes
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Melhoria na sinalização e lombadas eletrônicas
Limitações e próximos passos
Apesar da alta precisão (94% no primeiro período e 86-89% no segundo), a escassez de dados recentes – especialmente sobre perfil dos motoristas – limitou algumas análises.
“A mineração de dados pode revolucionar a segurança viária, permitindo políticas públicas baseadas em evidências”, afirma Fabio Teodoro de Souza, professor da PUCPR e coautor do estudo.
Publicação e acesso
A pesquisa foi publicada na Revista de Gestão Social e Ambiental em junho de 2025, com o título “A Data Mining Approach for Evaluating Factors Associated with the Occurrence and Severity of Road Traffic Accidents”.
Disponível em: https://rgsa.openaccesspublications.org/rgsa/article/view/12596/7037
Combinando tecnologia e gestão urbana, o estudo oferece um mapa estratégico para reduzir mortes no trânsito – um avanço crucial para a segurança nas estradas brasileiras.