A pauta do momento é a Covid 19. A reação das pessoas está dividida basicamente em dois grupos: as que estão com medo e tomando todas precauções possíveis de isolamento e higiene, e as que acham que está tendo um exagero coletivo, e que não adianta se isolar.
O fato é que todo mundo no fundo se preocupa com a própria saúde, e em tempos de hospitais lotados pelos infectados pelo coronavírus, o melhor remédio é a prevenção.
E uma das formas de se manter saudável é por meio de uma alimentação balanceada e adequada.
Recentemente, a Vitamina D tem sido apontada como aliada na prevenção do temido vírus. Por isso, conversamos com exclusividade com o médico especialista em nutrologia Dr Walter Souza Neto sobre vitamina D e alimentação em tempos de pandemia. Confira a entrevista na íntegra:
Portal Contexto.ctxt: Sobre a recente pesquisa divulgada pela universidade de Turin, na Itália que relaciona a falta de Vitamina D com a contaminação pela Covid 19. Qual a sua opinião à respeito?
Dr. Walter: O estudo traz uma relação, mas não uma relação de causa e efeito. É importante ressaltar que não há nada para que possamos afirmar que essas pessoas ficaram doentes só porque tinham deficiência de vitamina D.
E muito menos que níveis mais elevados de vitamina D seriam protetores contra a covid-19.
O que o estudo faz é apontar algo a ser melhor investigado. Há até um outro estudo no qual pacientes críticos receberam doses de vitamina D mil vezes acima do recomendado e isso não levou a nenhuma melhora na sua recuperação, mesmo entre os pacientes que tinham deficiência de vitamina D.
E não foi a primeira vez e nem será a última que se associa a vitamina D a tratamento de alguma patologia, e que, geralmente, quando pesquisado mais a fundo, acaba não se encontrando todo aquele benefício alegado inicialmente.
O mesmo também já aconteceu com várias outras vitaminas. Há alguns médicos que orientam megadoses de vitamina D para tratar doenças graves, e geralmente essas megadoses são prescritas em conjunto com vários outros tratamentos duvidosos que poderão ter consequências ruins.
A vitamina D em excesso pode ser tóxica, podendo levar a calcificações nos rins, pulmões, coração e até mesmo na membrana timpânica da orelha, o que pode causar surdez.
Portal Contexto: Mesmo considerando que a vitamina D não cure nem previna o Covid 19, ainda assim, é valido que a população busque a ingestão desta vitamina para aumentar a imunidade ou diminuir os riscos?
Dr. Walter: Não é valido buscar maior ingestão de vitamina D se esperando com isso maior imunidade. A vitamina D atua principalmente no metabolismo do cálcio (as reações químicas envolvendo o cálcio no nosso organismo).
Sendo importante para nossa saúde óssea, e por isso, exceto por doenças como raquitismo e osteoporose, ela não deve ser recomendada como profilaxia (prevenção) e muito menos como tratamento de outras doenças, incluindo aí o covid-19.
Mas ela também tem papel na regulação de diversos mecanismos do nosso metabolismo, incluindo mecanismos relacionados ao nosso sistema imunológico. Então, ter deficiência de vitamina D pode sim comprometer a resposta imune, mas isso não significa que níveis acima do fisiológico (níveis acima do normal) irão garantir maior proteção contra doenças infecciosas.
Enfim, não é bom ter deficiência, mas ter níveis muito elevados de vitamina D não é igual a ter uma super imunidade.
Portal Contexto: Então como a população pode adquirir ou manter seus níveis de vitamina D de forma equilibrada e adequada, sem o uso de suplementos?
Dr. Walter: A maior parte da nossa vitamina D (80 a 90%) é endógena, sintetizada no nosso próprio organismo através da exposição solar.
A alimentação acaba tendo um papel menor, e se a exposição solar não for possível, dificilmente se atingirá os níveis adequados sem suplementação.
Para colocar isso em números, nossa necessidade varia de 600 a 800UI (15 a 20mcg) por dia através da alimentação, o que não é tão fácil de ser atingido.
Dos alimentos in natura, os mais ricos são alguns peixes como salmão, cavalinha, atum e sardinha, sendo o óleo de fígado de bacalhau o alimento mais rico em vitamina D.
Quase todos os leites de vaca são enriquecidos com vitamina D, assim como bebidas vegetais ( feitos de amêndoa e soja, por exemplo).
Mas veja a quantidade aproximada em cada um desses alimentos: uma colher de sopa de fígado de bacalhau tem 1300UI, 100g de salmão têm 800UI, 100g de cavalinha têm 400UI, 100g de atum têm 150UI, uma lata de sardinha tem 50UI, 1 ovo tem 25UI, 200mL de leite de vaca enriquecido têm 80UI (o mesmo que as bebidas vegetais enriquecidas), fontes vegetais, as mais ricas, como cogumelos, têm apenas 8UI em 100g.
Basta fazer as contas para perceber que exceto se você for um consumidor usual de óleo de fígado de bacalhau ou de salmão, será difícil de conseguir a ingestão diária recomendada (IDR).
Para atingir a IDR será necessária uma dessas opções (aproximadamente): ou quase 2 litros de leite, ou 4 latas de atum, ou 12 latas de sardinha, ou 24 ovos.
Enfim, a forma mais barata e eficaz de manter adequado seu nível de vitamina D é a exposição solar.
Portal Contexto: E qual a melhor forma de se expor ao sol?
Dr. Walter: A quantidade de luz solar necessária pode variar muito, e vai depender de vários fatores, como localidade (pessoas em locais mais afastados do equador, muito ao sul ou ao norte do planeta, vão precisar de maior exposição), cor da pele (peles claras precisam de menor tempo de exposição que peles mais escuras), época do ano (menor tempo de exposição no verão e maior no inverno), e outros.
É difícil achar um valor fechado, mas avaliando os estudos disponíveis, de 5 a 15 minutos por dia, expondo as pernas e os braços, no horário de sol mais intenso entre 10 da manhã e 3 da tarde, parecem ser suficientes.
Tomando o cuidado é claro para não se expor excessivamente, provocando queimaduras e aumentando o risco de câncer de pele. Acredito ser possível mesmo em tempos de quarentena.
Portal Contexto: Diante dos pontos esclarecidos, se não for pela Vitamina D, como a população pode se proteger (além da higiene) por meio da alimentação?
Dr. Walter: Pensando em imunidade, o melhor é evitar excessos e respeitar o seu corpo. Boa alimentação, controle do estresse, sono adequado, evitar o sedentarismo, com certeza serão mais importantes em conjunto que a ingestão de qualquer alimento em particular.