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Discurso de Trump e aceno ao Brasil durante abertura na ONU giram em torno da defesa do dólar

Imagem: Reprodução/X

Em discursos que representaram visões contrastantes da ordem internacional, os presidentes Luiz Inácio Lula da Silva e Donald Trump se apresentaram na abertura da Assembleia Geral da ONU nesta terça-feira, 23. Enquanto o líder brasileiro defendeu o multilateralismo e modelos econômicos alinhados a critérios ESG, seu homólogo norte-americano reforçou uma postura crítica em relação às organizações internacionais e enfatizou uma abordagem bilateral nas relações entre países.

De acordo com análise do cientista político Fabio Andrade, professor de Relações Internacionais da ESPM, o discurso de Donald Trump reflete uma aposta clara em uma ordem internacional baseada em negociações individualizadas entre nações, em detrimento do multilateralismo. Andrade avalia que o presidente americano direcionou sua fala tanto para seu eleitorado doméstico, preparando o terreno para futuros pleitos eleitorais, quanto para públicos internacionais de extrema-direita, particularly ao criticar duramente a imigração ilegal e o papel da ONU nessa questão.

Um momento significativo foi o aceno direto de Trump ao Brasil durante sua intervenção. Segundo o professor, esse gesto pode ser interpretado de duas maneiras. Por um lado, como uma tentativa de suavizar o tom confrontativo de sua fala perante a assembleia. Por outro, e mais strategicamente, como um movimento para atrair o Brasil para mais perto da esfera de influência norte-americana, especialmente em um contexto em que o país tem aprofundado seus laços com os BRICS e com a China. Andrade sugere que esse aceno também pode refletir pressões de empresários norte-americanos com interesses comerciais no Brasil, afetados pelas tarifas impostas pelo governo Trump.

O especialista ressalta que o fio condutor do discurso trumpista foi a defesa intransigente do dólar como âncora da economia global. A preocupação central, em sua avaliação, é proteger a posição da moeda norte-americana como principal reserva internacional, frente a qualquer ativo que possa desafiar sua liquidez ou hegemonia. O evento evidenciou não apenas diferenças ideológicas, mas projetos geopolíticos distinctos para o sistema internacional.

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