
A Cisco, empresa de tecnologia, firmou parceria com a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) no hub de bem-estar digital (Digital Well-being Hub) para estudar a relação entre os riscos e benefícios da IA e como ela está impactando a vida das pessoas. O resultado mostrou que, por trás do entusiasmo geral da juventude com a IA, estão surgindo divisões geográficas e geracionais, moldando quem se beneficia da IA, quem corre os riscos e como a vida digital pode afetar o bem-estar.
A adoção da IA
Pessoas com menos de 35 anos apresentam os maiores índices de uso de redes sociais, dispositivos conectados e utilizam ativamente ferramentas de IA Generativa. No entanto, os verdadeiros protagonistas desse movimento estão nas economias emergentes, especialmente na Índia, Brasil, México e África do Sul. Esses países lideram a adoção global de IA, exibindo as maiores taxas de uso, níveis mais elevados de confiança e um engajamento mais ativo em treinamentos na área. O Brasil ocupa o segundo lugar no uso de IA Generativa, com 51,6% da população, atrás apenas da Índia, que registra 66,4%.
Em contraste, entrevistados de nações europeias demonstram menos confiança e mais incerteza em relação à IA. Essa tendência representa uma inversão em relação aos padrões históricos, nos quais as economias emergentes costumavam adotar novas tecnologias de forma mais lenta.
Por outro lado, nesses mesmos países em destaque, como Índia, Brasil, México e África do Sul, as populações também revelam um uso mais intenso da tecnologia para fins recreativos, com maior tempo dedicado a telas. Além disso, essas pessoas mostram uma dependência mais acentuada da socialização exclusivamente digital e vivenciam flutuações emocionais mais notáveis, com altos e baixos ligados ao uso tecnológico, em comparação com participantes de outras regiões.
A pesquisa aponta ainda que, globalmente, mais de cinco horas diárias de tempo recreativo em telas estão associadas a uma diminuição do bem-estar e a uma menor satisfação com a vida. Embora essa correlação não implique causalidade direta, é evidente a necessidade de focar no bem-estar digital. O objetivo é garantir que os avanços tecnológicos não ocorram às custas da saúde e da felicidade humana.
Guy Diedrich, vice-presidente sênior e diretor global de Inovação da Cisco, destaca a importância de capacitar as economias emergentes. “Capacitar economias emergentes com habilidades em IA não se trata apenas de tecnologia, mas de liberar o potencial de cada indivíduo para moldar seu próprio futuro. Com a rápida integração da IA em nossas vidas e ambientes de trabalho, devemos assegurar que essas ferramentas sejam projetadas de forma responsável, com transparência, justiça e privacidade incorporadas. O maior potencial da IA pode ser alcançado se ela melhorar o bem-estar, simplificando tarefas, aprimorando a colaboração e criando oportunidades de aprendizado e crescimento. Quando tecnologia, pessoas e propósito se unem, criamos as condições para comunidades resilientes, saudáveis e prósperas em todos os lugares”, afirma.
Da IA Generativa à ‘Geração IA’
As diferenças geracionais também são marcantes. Globalmente, jovens adultos relatam que a maior parte ou todas as suas interações sociais acontecem online e demonstram maior confiança na utilidade da IA. No mundo, metade dos entrevistados com menos de 35 anos usa ativamente a tecnologia, e mais de 75% a consideram útil. Além disso, quase metade das pessoas entre 26 e 35 anos já concluiu algum tipo de treinamento em IA. No Brasil, esse índice é de 41,4% entre os que afirmaram ter realizado qualificação fornecida pela empresa para o desenvolvimento de novas habilidades em tecnologia no último ano.
Por outro lado, a percepção da IA varia entre as faixas etárias. Adultos acima de 45 anos tendem a vê-la como menos útil, e mais da metade não a utiliza. Entre os maiores de 55 anos, a incerteza ou a resposta “não sei” sobre a confiança na IA pode refletir uma falta de familiaridade com a tecnologia, e não necessariamente uma rejeição. Essa divisão se estende às expectativas sobre o impacto da IA no emprego: as pessoas com menos de 35 anos e as que vivem em economias emergentes são as que mais antecipam mudanças significativas.
“As divisões geracionais na adoção digital e da IA não são inevitáveis; são desafios que podemos enfrentar por meio de ações direcionadas. Embora os mais jovens possam adotar novas tecnologias com mais facilidade, pessoas de todas as idades trazem experiências e perspectivas únicas e inestimáveis”, complementa Guy Diedrich. “Na Cisco, 26 mil funcionários já passaram por treinamento em IA, e somos um membro fundador do AI Workforce Consortium, uma coalizão de 10 empresas líderes que trabalham para preparar a força de trabalho para a oportunidade transformadora da IA em empregos de TIC em todos os setores. Uma medida crucial de sucesso da IA não deve ser a velocidade de adoção, mas se pessoas de todas as idades, níveis de habilidade e regiões conseguem utilizá-la para melhorar genuinamente suas vidas. Dessa forma, podemos assegurar que a ‘Geração IA’ realmente inclua todos”, conclui o executivo.
A pesquisa funciona como um apelo global à ação, convocando cidadãos, líderes empresariais e governamentais a colaborar na redução da disparidade de habilidades digitais, promover a alfabetização digital em todas as faixas etárias e equilibrar inovação com o foco no bem-estar. Somente assim será possível garantir que o futuro digital em construção seja verdadeiramente inclusivo.