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Análise coloca Brasil grande beneficiado de possível acordo da UE com o Mercosul

Foto: Pexels

Análise feita por economistas da seguradora de crédito prevê que exportações podem chegar a US$ 4,2 bilhões por ano

Nesta semana, a equipe de economistas da Allianz Research, parte da empresa Allianz Trade, analisaram os impactos do possível acordo comercial entre a União Europeia (EU) e países do Mercosul (Argentina, Brasil, Paraguai e Uruguai) que se estende por cerca de 20 anos.

Os países do Mercosul buscam contrapartidas em troca das garantias adicionais de proteção ambiental exigidas pela UE. A UE, por sua vez, ameaçou impor sanções a produtos do Mercosul provenientes de áreas desmatadas.

Os economistas também reforçam que as próximas eleições presidenciais na Argentina acrescentaram urgência às negociações, já que o principal candidato ameaçou dissolver completamente o bloco. Além disso, com as eleições para o Parlamento Europeu programadas para junho de 2024, ambos os lados pretendem finalizar o acordo até o final de 2023 para evitar mais atrasos.

Apesar desses obstáculos, políticos de alto escalão de ambos os lados expressaram otimismo quanto a um acordo até o final do ano na cúpula Europa-América Latina em julho. Se entrar em vigor, o acordo UE-Mercosul terá amplas implicações para o comércio: a UE representa 16% do PIB global e os países do Mercosul 3%. Isso tornaria o acordo comercial sete vezes maior do que o último grande acordo da UE, assinado com o Vietnã.

Brasil pode ser o grande beneficiado

Uma estimativa aproximada dos economistas da Allianz com base em dados de balanço comercial de 2022 (e considerando a redução da tarifa média de importação do Mercosul de 8,7% para menos de 1%, já que 95% dos produtos serão isentos de tarifas) mostra que ambas as regiões podem se beneficiar do acordo (US$ 5,1 bilhões para o Mercosul e US$ 3,9 bilhões para a UE, ou 8,1% e 6,8% de ganhos anuais adicionais totais de exportação, respectivamente).

Os economistas acreditam que o Brasil provavelmente será o maior beneficiado, com exportações adicionais estimadas em US$ 4,2 bilhões por ano (Figura 4). Entre os produtos mais exportados do Brasil para a UE, “combustíveis minerais e óleos minerais” provavelmente registrariam os maiores ganhos potenciais de exportação (US$ 0,8 bilhão por ano, Figura 5).

Três questões-chave a serem consideradas

Segundo Roberta Fortes, economista sênior para Ibero-LatAm, preocupações podem surgir sobre possíveis consequências distribucionais, especialmente para açúcar, etanol, carne bovina e frango, para os quais o aumento das importações para a UE pode prejudicar os produtores domésticos.

“Restrições quantitativas foram negociadas para abordar essa questão. Não esperamos que os níveis de importação de soja aumentem, uma vez que a UE já não impõe tarifas. Além disso, existem preocupações de que o acordo possa contribuir para o desmatamento devido à expansão da produção agrícola nos países do Mercosul. No entanto, restrições remanescentes ao comércio agrícola com a UE devem limitar esse impacto. Medidas propostas visam abordar essas preocupações”, explica a economista.

Fortes ressalta ainda que o terceiro e mais importante argumento é o peso geopolítico do acordo. Isso porque a China já domina o comércio exterior com os países do Mercosul (Figura 6), assegurando matérias-primas vitais deles.

“Em 2021, 91% das exportações do Mercosul para a China estavam nos setores agrícola e de minerais, enquanto essa parcela era de apenas 67% para a UE. Embora a UE continue sendo um mercado importante, países com menos proteção ambiental e restrições de direitos humanos na Ásia e no Oriente Médio estão se aproximando”, explica.


Por fim, o documento reforça que, apesar de todas as negociações, a decisão final será política. Pedro Sánchez, o Primeiro-Ministro espanhol e atual Presidente do Conselho da União Europeia, é um forte defensor do acordo e considera importante limitar a crescente influência política e econômica da China na região. O contexto geopolítico atual certamente apoia a sua visão. No entanto, os economistas afirmam que a principal questão é se ele pode convencer seus colegas europeus, em particular a França e a Alemanha, a cederem.

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