A principal delas é que a culinária paraense está bombando na Cidade Maravilhosa, com casas tradicionais abrindo novos espaços e renovando cardápios para conquistar, cada vez mais, o público daqui. Aliás, o interesse crescente pela cultura paraense não se limita à gastronomia: o circuito musical do Rio viu surgir, há cerca de 8 anos, os primeiros eventos dedicados a ritmos como carimbó e guitarrada – e até um conjunto formado por cariocas, o Noites do Norte.
Em 2013, mesmo ano de nascimento da banda, chegava aqui o paraense Silvan Galvão, que passou a ministrar oficinas de carimbó e, com o sucesso do projeto, fundou o Carimbloco. Isso sem falar nos shows lotados da Dona Onete no Circo Voador. Ouça aqui a playlist da coluna desta semana!
TACACÁ DO NORTE GOURMET (@tacaca_do_norte)
“A expansão foi uma demanda dos clientes, que queriam mesas para a família”, conta Amaral Viana, um dos gerentes da casa que desde 1973 conta com clientela fiel. O prato que escolhi foi o famoso pato no tucupi (R$ 70), comida oficial do Círio de Nazaré, servido no restaurante somente aos sábados e domingos.
O pato tenro e saboroso é banhado no tucupi – líquido amarelado que é o sumo da mandioca brava, de sabor suave e peculiar. O jambu cozido dá um toque especial, causando uma pequena dormência nos lábios. O aspecto e a textura da erva se assemelham ao agrião cozido. De sobremesa, um delicioso sorvete de castanha-do-pará com cupuaçu (R$ 15). Acompanham o prato arroz branco e farinha d’água (aquela amarela, espessa e crocante). A quantidade é satisfatória.
GRÃO-PARÁ (@emporiograoparario)
O Grão-Pará é a única franquia de comidas e produtos paraenses no Rio. A rede começou em 2017 com a primeira loja em Copacabana, em seguida vieram as unidades Tijuca, Niterói e Humaitá. Cláudia Pinheiro é paraense, largou o negócio de cafés no Rio Grande do Sul para realizar o sonho de trabalhar com as receitas da sua terra. Em outubro do ano passado, comprou a franquia do Grão-Pará na pacata Rua Cesário Alvim, no Humaitá.
O carro-chefe da rede é o açaí ‘premium’ – realmente uma categoria diferente, puríssimo, pastoso. “Nada de água ou xarope de guaraná. Aqui nós servimos do jeitinho que o paraense gosta. Mas é claro que adaptamos para o público carioca, que gosta de granola no açaí, por exemplo”, diz Cláudia. O pote de 200 ml sai a R$ 13, 400 ml custa R$ 26 e 1 litro é R$ 50.
A matriz em Copacabana inaugura hoje (29/01) um novo cardápio que inclui peixes na brasa, como tambaqui (R$ 75 para 1, R$ 180 p/2), acompanhado de arroz e farofa, além da chapa mista – com pirarucu, filhote, charque, acompanhados de aipim e açaí (R$ 89 pequena, R$ 165 grande).
CANTINHO DO PARÁ (@ocantinhodopara)
E a culinária paraense, riquíssima em tradição, também se moderniza. Uma das chefs que estão à frente desse movimento é Lia Martins. Durante muitos anos, ela e o parceiro Rubem Martins foram fornecedores, lá do Pará, de produtos regionais para todas as casas do Rio. Desde 2002 por aqui, a dupla abriu alguns negócios até que surgiu o Cantinho do Pará, em 2017, como um pequeno estande no Mercado de Produtores (shopping Uptown Barra). De lá pra cá, o espaço já passou por uma expansão e vai aumentar novamente em breve.
“Hoje somos o únicos restaurante paraense na Barra, a receptividade tem sido muito boa. Queremos conquistar cada vez mais o público carioca, principalmente os mais jovens”, conta Lia. Entre suas criações estão o bolinho de jambu com camarão e cream cheese (R$ 14) – simplesmente divino – e o Arroz Society (R$ 39), que leva caranguejo, camarão, leite de coco e batata palha. A receita tem um sabor suave, gostoso, uma textura leve – que não pesa, mas alimenta bem. Para acompanhar, um suco refrescante de bacuri (R$ 13). Vale a pena conferir!
ARATACA (@arataca1955)
Mas o grande destaque das minhas descobertas da semana foi o Filhote à moda Arataca, que entra mês que vem no cardápio novo, da também nova filial Jardim Botânico do paraense mais tradicional da cidade. Fundado em 1955, em Copacabana, o Arataca tem cardápio voltado para a comida paraense, incorporando também pratos da culinária nordestina. A nova filial conta com diversos drinks autorais, é um espaço gourmet que promete inovar.
“Queremos uma cozinha viva, que siga tendências, que seja cada vez mais atraente para o público geral”, contam os sócios e irmãos Lucas e Mateus Murada. Uma das apostas da dupla será criar receitas novas com os peixeis típicos do Pará, como o filhote (piraíba). “É um peixe difícil de conseguir, e muitas vezes vemos a gurujiba sendo vendida como filhote. Nós estamos sempre atentos e trabalhamos com os melhores fornecedores”, conta Lucas.
Para mim foi uma felicidade enorme, na primeira coluna sobre gastronomia, experimentar uma criação inédita. De entrada, uma casquinha da caranguejo (R$ 25) muito bem servida e temperada, com direito a molho de pimenta com açaí. Para acompanhar, suco de cupuaçu (R$ 12). O Filhote à moda Arataca é preparado com uma redução de tucupi (fantástica), macaxeira gratinada – no ponto ideal – e camarão seco.
O peixe é realmente saboroso, farto, vem selado no ponto perfeito. O prato tem uma belíssima apresentação e vem acompanhado de arroz, com um pouco de jambu fresquíssimo, e farinha d’água.
O preço ainda não foi definido, mas deve ficar em torno de R$ 60 para 1 pessoa e R$ 110 para duas. A julgar pelo Filhote à moda Arataca – e as outras descobertas da semana –
Conheça outras descobertas de Gabriel Versiani pelo Rio de Janeiro aqui!
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