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Ousadia do Amor [Bastidores de você]

Olá a todos os leitores da coluna,

Hoje resolvi cometer uma maluquice, decidi escrever sobre o amor e digo que é uma loucura porque como posso reduzir em palavras coisas que tocam a alma de cada pessoa de modo diferente?

Lacan dizia que o amor é o mais sublime dos sintomas, digo mais, além de sintoma sublime, o amor também é odioso, porque muitas vezes o compromisso com seu amor fará com que você, em certa medida, sinta dor e me lembro do Soneto da Fidelidade de Vinícius de Moraes e a partir dele me ponho a pensar:

“Quero vivê-lo em cada vão momento
E em louvor hei de espalhar meu canto
E rir meu riso e derramar meu pranto
Ao seu pesar ou seu contentamento.”

A primeira coisa que quero falar sobre o amor é que ele serve para nos tornar mais digno e esse é o grande problema, muitas vezes, por amar demais o outro, acabamos por nos deixar de lado, acabamos investindo toda nossa energia no outro e se o outro não for digno desse amor, acabará utilizando desse amor para nos controlar. Isso é o que vemos nos casos de relacionamentos abusivos, amor sim nos traz boas sensações, mas amor tem que edificar, se for instrumento em que o outro nos manipule, verdadeiramente não é amor.

Por ser tão forte, o amor tem o condão de nos tornar mais leves, porém novamente temos que recordar que se o amor não nos edificar, não nos constituir de modo que traga leveza para nossas vidas, ele acaba tornando-se um fardo. Aceitar tudo do outro causa sofrimento e mais, traz um peso para a relação, é normal alguns momentos de dor numa relação amorosa, mas quando a dor é maior que o prazer oferecido, quando o preço é maior do que o gozo aí deixa de ser amor, torna-se masoquismo.

Amor e amar fortalece, se nos enfraquecem não passam de paixão e a paixão é patológica. A paixão é a chama que arde, mas quando fora de controle vira incêndio e como tal queima e destrói. Não custa lembrar que paixão vem do grego Pathos que também é a raiz etimológica de patologia (doença). Por isso mesmo que Vinícius, ao magistralmente dizer sobre o amor ser chama disse:

“Eu possa me dizer do amor (que tive):
Que não seja imortal, posto que é chama
Mas que seja infinito enquanto dure.”

O amor também nos dá acesso aos maiores cantos de nossa alma, as nossas profundezas, por amor somos capazes de tudo, assim, o amor tem o poder de nos libertar e nos permitir nos conhecer por inteiro. Só o amor próprio nos permite dizer sobre nós, perceber o que e quem somos.

O que é o amor então?

Já disse muita coisa, acho que nem vou conseguir, pois como definir algo que não é mensurável ou cognoscível? Eu só sei que o amor tem o condão de nos fazer crescer, mesmo porque o amor tem como principal marca de ser plural e inexato, portanto há várias formas de se amar e principalmente de ser amado, qual a sua?

O amor é tão poderoso que Freud dizia que nele podemos nos deparar com um triângulo que em um lado existe o amor próprio no outro lado o odiar- se ou ainda em no terceiro canto ele nos gera a indiferença, seja em relação a nós ou em relação ao outro. Em outras palavras, o amor de acordo com a face que nos toca pode ser ligado a nós, ligado ao outro ou nos tornar inertes quanto a ele.

A única coisa que eu tenho certeza é que o amor nos liberta, mas somente quando ele é sentido em sua plenitude e assim ele autoriza você a libertar o outro sem que com isso haja a objetalização, onde há amor não há grilhões.

Molière que dizia que “viver sem amor significa realmente não viver”, ou seja, Deus me livre de passar uma vida sem amor, mas também me livre de amar sem ser correspondido, e aí me pergunto: como encerrar o texto? Peço socorro a Clarice Lispector:

 

“No amor felizmente a riqueza está na doação mútua. O que não significa que não haja luta: é preciso se doar o direito de receber amor. Mas lutar é bom”.

Como disse, não consegui definir o que é o amor, mas quero deixar duas constatações importantes: Em primeiro lugar, definir amor é uma idiotice, não se define o que se sente com o coração. Em segundo lugar é melhor colocar seu coração em risco, arriscar tudo e ir embora com nada do que entrar no campo em busca do amor através de uma certeza. A única convicção que tenho sobre o amor é que ele não é e nunca será nem seguro.

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