Não conheci o antigo Museu da Casa do Pontal, inaugurado em 1992 para abrigar o acervo do designer francês Jacques Van de Beuque, reunido ao longo de 45 anos. Em 2011, a coleção com 9 mil obras de mais de 200 artistas passou a ser ameaçada por inundações, causadas pelas obras para as Olimpíadas. Desde então, o público ficou privado da beleza deste acervo. Assim que soube da reabertura, no início de outubro, me programei para ir. O funcionamento é de quinta a domingo, das 10h às 18h, com retirada de ingressos pela internet. A entrada é gratuita, com contribuição consciente.
“O Museu do Pontal não é apenas um museu completo de Arte Popular Brasileira, pode ser considerado como um verdadeiro museu antropológico, único no país a permitir uma visão abrangente da vida e da cultura do homem brasileiro” – International Council of Museums (ICOM).
Marcamos o horário de 11h00 para poder acompanhar uma sessão de visita musicada e, em seguida, aproveitar o “Baú de Brinquedos” com nossa pequena Leandra, de 1 ano e 7 meses. Chegamos um pouco antes e aproveitamos para conhecer o Divino Café, embora já tivéssemos feito em casa a primeira refeição do dia. Ainda assim, valeu a pena a porção de pães de queijo (R$ 12 | 10 unidades) e o suco e laranja (R$ 10). O cardápio inclui combos que variam de R$ 38 a R$ 99, e a casa empresta toalhas e cestas para quem quiser fazer um picnic no jardim.
Depois do café, partimos para o assunto principal. A exposição de longa duração do museu se chama “Novos ares: Pontal reinventado”. Ela é divida em 5 partes: “Entre beiras e margens”, “Brincares”, “Terra/Terra”, “Poética da criação” e “Devoções”. Durante a visita musicada, a arte-educadora Beatriz Beça entoava cantigas relacionadas a cada seção, explicando também o contexto das obras. Muito bacana!
O destaque na primeira parte são as obras do mestre Vitalino, pernambucano considerado expoente da arte popular. Nem preciso dizer que a pequena Leandra não estava muito disposta a percorrer o trajeto de forma linear (rsrsrs)! A mamãe ficou na função, enquanto o papai se preocupava em acompanhar a visita guiada e tirar boas fotos. Neste sentido, vale a pena uma dica: a visita musicada é legal, mas segue um ritmo próprio, talvez um pouco acelerado para quem quer apreciar com calma as peças expostas. Então, vale a pena fazer a visita, mas depois voltar para olhar com mais tempo.
Adiante, chegamos na parte dos festejos. Pensei no carnaval de Olinda, no maracatu, na riqueza do folclore brasileiro… Ainda não conhecia o Cazumba, personagem mascarado dos bois do Maranhão. As máscaras são lindas! Um momento marcante é quando uma maquete móvel emite o som gravado de um lindo cântico folclórico. Cheguei embevecido à próxima etapa, que traz artistas do Vale do Jequitinhonha e faz referência à sabedoria ancestral. O visitante é convidado a escrever em um papel adesivo algo que aprendeu em família. “Com saúde está tudo bem, meu filho”, lembrei da minha avó Maria do Carmo. O que ela ensinaria hoje para a bisneta Leandra?
A esta altura, a pequena se divertia com bonecos de cerâmica de Dona Izabel. Mais adiante, chegamos à parte que faz referência às águas. O ambiente em penumbra e a iluminação pontual valoriza a beleza das obras, a maioria representações de embarcações. Mas as obras que mais impressionaram estão no setor Poética da Criação: “escapam às primeiras apreensões, fugindo aos temas consagrados historicamente na arte popular”, diz o texto. Destaque para a grande roda talhada em madeira, do artista mineiro GTO, feita após um sonho. Impressiona também a obra de Geraldo Marçal dos Reis, também de Minas: um enorme galho que se transforma em casas (foto).
Finalizando o percurso, a beleza, a espiritualidade e a alegria do setor “Devoções”. Ele inicia com lindos presépios, e termina com uma escola de samba em movimento! A saída desemboca na charmosa lojinha: a vontade é de levar tudo depois de ver tanta coisa bonita. O ‘grand finale’ ficou por conta do Baú de Brinquedos, fazendo a festa da criançada no jardim ensolarado. Leandra curtiu um pouquinho o boneco de fantoche, mas já estava cansada e era hora de partir. Foi uma experiência muito agradável e enriquecedora: um banho de cultura brasileira! 🙂
DICA CARIOCA
Amanhã (30/10), a partir das 21h, tem uma live que promete ser sensacional, já que reúne pela primeira vez duas artistas maravilhosas: Leila Pinheiro e Ana Costa! Em “Música e Amizade” elas vão cantar e tocar juntas sambas, baladas e bossas. Ana na voz, no violão e no contrabaixo. Leila também canta e toca piano. O encontro foi gravado em clima descontraído no estúdio de Leila, em sua casa, e será exibido pelos canais das artistas no YouTube (leilapinheirooficial e anacostaoficial). As artistas estarão ao vivo participando dos comentários nos chats!
“É uma grande honra e uma alegria imensa poder dividir esse momento musical e afetivo com Leila Pinheiro. Leila, uma referência! Leila que tanto me incentiva e me mostra caminhos que eu sempre quis trafegar. Juntar nossa musicalidade de forma leve, trazer para essa live a nossa vivência, que se ampliou bastante nesse momento de pandemia e solidão. Esses são os pilares do nosso encontro que acontece sábado”, Ana Costa.
“Cantar e tocar com Ana Costa nesta live é desfrutar de imensa alegria. Ana passeia por repertório de alta qualidade, é cantora e compositora gigante, destemida, arrojada tocando violão, contrabaixo e cantando lindamente canções que escolhemos juntas em longas e deliciosas tardes de ensaio e trabalho juntas”, diz Leila Pinheiro.
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