
Entre os dias 14 e 20 de julho, a capital de Mato Grosso recebe a 22ª edição do Festival de Cinema e Vídeo de Cuiabá (Cinemato). Criado em 1993, o festival chega em 2025 com o tema “Decolonizando a Amazônia”, propondo reflexões críticas sobre o território e sua representação no audiovisual brasileiro.
A edição deste ano homenageia o pioneiro do cinema amazônico, Silvino Santos, conhecido como “o cineasta da selva”. A abertura do evento será com a exibição do clássico Amazonas, o Maior Rio do Mundo, produzido por ele na década de 1920.
Mostra competitiva reúne 21 filmes de todo o Brasil
A mostra competitiva do Cinemato 2025 apresenta 21 filmes, sendo 6 longas e 15 curtas-metragens nacionais, que concorrem ao Troféu Coxiponé, símbolo da resistência cultural da etnia bororo, tradicional das margens do Rio Coxipó. A curadoria priorizou obras com diversidade estética, protagonismo de grupos historicamente invisibilizados e diálogo com a temática amazônica decolonial.
Longas-metragens selecionados:
- Mawé, de Jimmy Christian (AM) – ficção sobre os conflitos de uma jovem indígena entre os rituais de sua aldeia e a vida urbana;
- Pedra Vermelha, de Cassemiro Vitorino e Ilka Goldschmidt (SC) – documentário sobre comunidades afetadas por megaprojetos no Sul do Brasil;
- Kopenawa: Sonhar a Terra-Floresta, de Marco Altberg e Tainá de Luccas (RJ) – mergulho no pensamento cosmológico yanomami;
- O Silêncio das Ostras, de Marcos Pimentel (MG) – ensaio sensorial sobre luto e meio ambiente, com referência ao desastre de Brumadinho;
- Concerto de Quintal, de Juraci Júnior (RO) – documentário que transforma a música em ferramenta de resistência cultural;
- Serra das Almas, de Lírio Ferreira (PE) – ficção que revisita a poética sertaneja em tom contemporâneo.
De acordo com o diretor do festival, Luis Borges, o recorte temático deste ano não se restringe à produção amazônica. “A proposta é promover a desconstrução do olhar eurocêntrico sobre o país e seus sujeitos”, afirma.
Festival fomenta formação e distribuição do cinema independente
Além da exibição de filmes, o Cinemato também tem papel formativo. Segundo Luis Borges, as oficinas promovidas ao longo das edições anteriores foram fundamentais para o surgimento de uma mão de obra qualificada no setor audiovisual de Mato Grosso. “Na época da criação do festival, Cuiabá tinha apenas uma única sala de cinema. O festival estimulou novos projetos e profissionais no estado”, lembra.
Ele destaca ainda a importância dos festivais como vitrine para filmes que não chegam ao circuito comercial, reforçando que, apesar de políticas como a cota de tela, a fiscalização ainda é falha na região. “O Cinemato cumpre essa função de dar visibilidade ao cinema nacional e conectar os filmes ao seu público.”
Dira Paes entrega prêmio que leva seu nome
A cerimônia de encerramento do festival, marcada para o dia 20 de julho, terá a presença da atriz Dira Paes, homenageada pelo festival em 1996 com o prêmio de Melhor Atriz por Corisco & Dadá. Este ano, ela retorna para entregar pessoalmente o Prêmio Dira Paes, dedicado a mulheres com atuação de destaque no audiovisual e em causas socioambientais.
“É uma honra entregar um prêmio com meu nome em um festival que acompanho desde a primeira edição. O Cinemato tem um DNA próprio, ligado à sua região e às reflexões urgentes do nosso tempo”, declara Dira.
Em 2024, Dira estreou na direção com o filme Pasárgada, abordando questões ambientais e democráticas. Para a atriz e cineasta, o cinema brasileiro vive um momento especial, impulsionado por conquistas como o Oscar de Melhor Filme Internacional para Ainda Estou Aqui.
Em cartaz como atriz no filme Manas, dirigido por Marianna Brennand, Dira destaca a força do cinema da Amazônia em abordar temas universais como a exploração sexual e a violência de gênero. “É comovente ver uma obra ambientada na Amazônia tocando o público em todo o país. Um filme necessário, com direção potente e elenco primoroso”, afirma.