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Estudo afirma que vitamina D pode reduzir riscos em pacientes com covid-19

Mais uma vez ela ganha o holofote em um estudo científico. A vitamina D, às vezes, parece um grande mistério. Seria um hormônio? Tem de fato condições de regular o sistema imunológico? A suplementação é necessária? Ela pode proteger de infecções?

As perguntas estão aí e os pesquisadores da Universidade de Ciências Médicas de Teerã publicaram no último mês um estudo que aponta que: a vitamina D reduziu os riscos de morte e de complicações provocadas pelo novo coronavírus.

A pesquisa

O estudo, Vitamin D Sufficiency Reduced Risk for Morbidity and Mortality in COVID-19 Patients, analisou dados hospitalares de 235 pacientes positivos para a covid-19. A idade média era de 58,7 e 74% apresentavam infecção grave causada pelo SARS-CoV-2 e 32,8% tinham vitamina D suficiente, acima de 30 ng / mL. 

Os pesquisadores encontraram uma associação significativa entre a suficiência de vitamina D e redução na gravidade clínica, mortalidade de pacientes internados, níveis séricos de proteína C reativa (PCR) e um aumento na porcentagem de linfócitos. Pacientes com níveis inferiores a 30ng/dL apresentavam maior risco de resultados adversos da COVID-19 tais como inconsciência, hipoxemia (saturação periférica de oxigênio menor que 90%), gravidade da doença e mortalidade. 

Gráfico relaciona o nível de vitamina D (eixo y) e a idade (eixo x), e as bolas brancas, pacientes que sobreviveram e as vermelhas, pessoas que vieram a óbito

A proporção de indivíduos que faleceram entre aqueles com suficiência de vitamina D era menor quando os níveis eram maiores que 40ng/dL (6,3% em comparação a 9,7% com níveis entre 30 e 40 ng/dL).

O que sabemos sobre a vitamina D?

A médica e diretora Clínica Longevitá, dra Patricya Tavares (foto à esquerda), explica que “a vitamina D é uma vitamina de extrema importância para o nosso organismo, há muitos anos já é sabido o efeito que ela tem sobre o cálcio na formação óssea, mas nos últimos anos ela vem sendo estudada sobre os efeitos imunomoduladores”.

A função de modular o sistema imune acontece por “diversas ações em células como os linfocitos T, os macrofagos, diversas citocinas e leucinas”, afirma a médica.

Estamos mais deficientes em vitamina D?

Nos últimos anos, ela apareceu mais em pesquisas, nas prateleiras das farmácias e nas legendas das fotos de redes sociais. Mas será que as pessoas estão mais deficientes em vitamina D?

Quem nos ajuda a responder esta questão é a dra. Cristina Salaro, presidente da Sociedade Brasileira de Dermatologia do Distrito Federal (SBD-DF). “Isso se deve, em parte, à disseminação da dosagem de vitamina D no sangue. Com todo mundo fazendo o exame, é de se esperar que se aumentem os diagnósticos de deficiência e insuficiência dessa vitamina”, afirmou.

Ela ainda explica que “a deficiência de vitamina D pode estar associada a condições autoimunes, doenças neurológicas e alguns tipos de câncer, embora a relação de causalidade ainda não tenha sido comprovada”.

Vitamina D e a Covid-19

Em março deste ano, saiu uma pesquisa da italiana que relacionava a vitamina D com o coronavírus. Naquele momento, conversamos com o dr. Walter Souza Neto que foi cauteloso e explicou: “ela também tem papel na regulação de diversos mecanismos do nosso metabolismo, incluindo mecanismos relacionados ao nosso sistema imunológico. Então, ter deficiência de vitamina D pode sim comprometer a resposta imune, mas isso não significa que níveis acima do fisiológico (níveis acima do normal) irão garantir maior proteção contra doenças infecciosas.”

Sobre a pesquisa da Universidade de Teerã, a médica endocrinologista do Hospital Anchieta de Brasília, Gabriela Mendes, explica que: “Entretanto, como os próprios autores afirmam ao final, esta pesquisa, assim como outras até agora, não conseguiu ainda provar causalidade e sim associação. Ou seja, a pesquisa não consegue afirmar que a suplementação de vitamina D para atingir níveis maiores que 30 ng/dL evitaria a infecção pelo SARS-CoV-2 ou nos protegeria contra formas graves da covid-19. Até porque alguns estudiosos defendem que a deficiência de vitamina D pode na verdade refletir a gravidade da doença do indivíduo e não necessariamente ser a causa dela ou piorá-la.” 

Ela ainda afirma “até agora não conseguimos afirmar que a suplementação da vitamina D tenha algum efeito benéfico durante um processo infeccioso ou na prevenção deste, incluindo a COVID-19. Ainda precisam ser feitos mais estudos para afirmarmos isto e termos respaldo científico para esta nova indicação do uso da vitamina D. Até o momento essa recomendação não foi feita pelas sociedades médicas.” 

Já a dra Patricya Tavares entende que “todos estes estudos publicados mostram que a vitamina D em níveis elevados constituem um fator protetor para infecções bacterianas e infecções virais e também uma evolução mais favorável, isto não seria diferente com a covid”.  

Exposição solar

O sol é reconhecido como a principal fonte de vitamina D. “Algumas sociedades médicas recomendam um tempo de exposição solar entre 15 e 30 minutos ao dia. Lembrando que o isolamento social é uma importante medida de combate ao Coronavírus, então esta exposição solar pode ser feita no jardim de casa, na varanda ou na janela desde que ela esteja aberta já que o vidro pode atenuar os raios ultravioletas.”, recomenda a dra. Gabriela.

A dra Cristina recomenda “a exposição solar cautelosa, mesmo para quem mora em apartamento; 10 minutos ao dia nas pernas (revezando anteriormente e posteriormente) ou a suplementação supervisionada de vitamina D”. Ela ainda lembra para não expor o rosto.  

Será esta ação, tomar sol, que irá “transformar esta vitamina D em vitamina D ativa que realmente vai ter todos estes efeitos benéficos no nosso sistema imune”, explica a dra Patricya.  

Suplementar é preciso? 

A exposição solar e a alimentação são aliados da vitamina D. Por outro lado, houve uma mudança de comportamento, e as pessoas estão cada vez mais trancadas em casa ou nos escritórios e a suplementação surge como um caminho viável para manter as doses desta vitamina no sangue.

Sendo assim, as médicas ouvidas pelo Portal Contexto recomendam buscar a orientação de uma especialista, pois “a suplementação de vitamina D, assim como qualquer outro tratamento médico, deve ser sempre individualizada, e claro, apresenta seus benefícios quando bem indicada”, orienta dra Gabriella.

dra. Cristina Cristina Salaro, presidente da Sociedade Brasileira de Dermatologia do Distrito Federal

“Bons níveis de vitamina D são sempre desejáveis.  Regula o crescimento, regula o sistema imunológico, cardiovascular, músculo- esquelético e o metabolismo. Se os níveis estiverem baixos, é interessante suplementar sim”, destaca dra Cristina, presidente SBD-DF

Algumas pessoas podem apresentar uma deficiência na absorção da vitamina, e por isso, o acompanhamento médico se torna primordial. A dra. Cristina explica queapesar de ser uma condição não comum, mas que pode acontecer, como no caso de pessoas com doença celíaca ou com insuficiência renal crônica, por exemplo. A vitamina D ingerida pelos alimentos e a produzida após exposição da pele ao sol estão na forma inativa. A ativação é feita inicialmente no fígado e finalizada nos rins. No caso de insuficiência renal crônica não ocorre a transformação da vitamina D na sua forma ativa e, assim, ela não cumprirá seu papel no organismo. Já no caso da doença celíaca, haverá deficiência na absorção do nutriente”, disse.

Qual é o nível ideal?

A dra. Cristina afirma que altas doses de vitamina D não são recomendadas, o ideal é que a pessoa seja avaliada por um médico, pois a suplementação tem riscos, e níveis acima de  100 ng/mL levam ao risco de hipercalcemia (quantidade de cálcio no sangue maior do que o normal) e intoxicação.

Assim, como explica a médica:

Recomendações

As recomendações com relação ao coronavírus, seguem as já conhecidas. Se for sair de casa, use máscara facial, observe o distanciamento das pessoas, evite aglomeração e lave as mãos com frequência.

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