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Diagnóstico tardio de TEA entra na agenda nacional após sanção de lei voltada a adultos e idosos

Foto: divulgação

A recente promulgação da Lei 15.256/25, que estabelece diretrizes para o diagnóstico do Transtorno do Espectro Autista em adultos e idosos, representa um marco significativo na agenda da neurodiversidade no Brasil. Esta iniciativa reconhece oficialmente uma realidade até então pouco visível: muitas pessoas com autismo atingem a idade adulta ou mesmo a terceira idade sem compreender sua própria condição neurodivergente.

Nilson Sampaio, especialista em inclusão, explica que a ausência de diagnóstico formal frequentemente leva indivíduos autistas a desenvolverem estratégias de camuflagem social, resultando em fadiga emocional persistente e sensação de inadequação. Além disso, muitos enfrentam sobrecarga sensorial em ambientes estimulantes, desafios profissionais relacionados à manutenção do foco e adaptação a rotinas, e dificuldades nos relacionamentos interpessoais, frequentemente interpretadas como falhas pessoais.

O caso da jornalista Bruna Bozza, diagnosticada com TEA nível 1 aos 37 anos, ilustra as complexidades do diagnóstico tardio. Após receber seu diagnóstico, ela experimentou sentimentos contraditórios: alívio por finalmente compreender sua própria história, mas também um processo de luto pelas oportunidades perdidas e pelo esforço despendido durante anos tentando se adequar a padrões neurotípicos.

Segundo Sampaio, o diagnóstico, mesmo quando realizado tardiamente, oferece benefícios transformadores: possibilita o autoconhecimento e validação das experiências de vida, permite o acesso a intervenções e estratégias específicas, facilita a conexão com redes de apoio especializadas e viabiliza a solicitação de adaptações inclusivas nos ambientes profissional e social.

A nova legislação cria bases para a implementação de políticas públicas efetivas, incluindo a capacitação de profissionais de saúde para identificar TEA em diferentes faixas etárias, campanhas de conscientização sobre autismo na vida adulta e a estruturação de redes de atendimento multidisciplinar. No entanto, Sampaio ressalta que o diagnóstico representa apenas o ponto de partida, sendo fundamental garantir acessibilidade real e inclusão genuína para essa população.

Um desafio persistente destacado pelo especialista é o preconceito enfrentado por autistas de nível 1 de suporte, frequentemente subestimados em suas dificuldades por conseguirem mascarar suas características em contextos sociais. Esse constante esforço de adaptação pode resultar em significativo desgaste físico e mental, além de condições como ansiedade e depressão.

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