SE VOCÊ AINDA NÃO SABE O QUE É CHATGPT, JÁ ESTÁ ATRÁS DE MAIS DE 100 MILHÕES DE PESSOAS NO MUNDO
Como a inteligência artificial está desmaterializando tudo, inclusive as pessoas!
Esse é um artigo informativo, escrito com propósitos de alfabetização digital. Por isso mesmo, peço perdão aos mais catedráticos por não utilizar o rigor técnico em algumas explicações, como forma de simplificar para o usuário leigo no assunto. Dito isso, sigamos em frente.
De maneira simplificada, uma inteligência artificial é um programa de computador capaz de aprender. Utilizando processos que chamamos de “aprendizado de máquina”, essa ferramenta pode se tornar especialista em um determinado ramo, substituindo objetos físicos e até mesmo pessoas em algumas atividades. Tomemos como exemplo a fotografia: anos atrás, para que um fotógrafo tirasse uma boa foto, eram necessários, além de uma grande câmera, um bom jogo de lentes, luzes e todo um aparato sem o qual o fotógrafo não conseguia trabalhar. Além disso, ele tinha que tirar várias fotos em diferentes condições para, tempos depois, selecionar a melhor. Hoje, no entanto, é possível obter um resultado muito semelhante usando um bom smartphone.
Como isso é possível?
Quando você tira uma foto no celular, na verdade, são tiradas várias fotos em diferentes condições de luz e com filtros (digitais) diferentes. Em seguida, uma inteligência artificial presente no aparelho combina todas essas imagens, extraindo o melhor de cada uma e combinando as imagens em uma única foto com a melhor iluminação e definição de cores. Claro que tudo isso acontece em uma fração de segundo, de modo que você não percebe. É como se a inteligência artificial presente no smartphone tivesse “desmaterializado” as grandes câmeras, lentes e as luzes, substituindo tudo isso por uma pequena câmera com não mais que 1 cm de espessura no seu telefone. Isso gera uma economia de escala, reduzindo os custos significativamente e proporcionando acesso a serviços e produtos de melhor qualidade.
Agora, no entanto, estamos indo mais além. A inteligência artificial passou a desmaterializar as pessoas.
Como assim?
Como eu disse, uma I.A. (inteligência artificial) é um programa de computador capaz de aprender. Se, por exemplo, a alimentarmos com milhares, ou até mesmo milhões, de imagens de tomografias que apresentam tumores, a inteligência artificial aprenderá a identificar essas imagens e será capaz de analisar novas imagens com uma precisão superior à de um ser humano. Da mesma forma, se alimentarmos uma inteligência artificial com dados de milhões de processos jurídicos, ela será capaz de identificar e solucionar situações jurídicas com maior eficácia do que um ser humano. Atualmente, essas soluções já existem, embora muitas pessoas resistam à sua utilização. No entanto, é apenas uma questão de tempo até que esses e outros tipos de profissionais sejam “desmaterializados” pela I.A. (Inteligência artificial).
Então, dependendo do que usamos para alimentar esse programa de computador inteligente, podemos torná-lo especialista em determinado assunto. Mas até então, tudo isso era focado em uma única coisa (análise de imagens, identificação de sons específicos, etc.). E se uma ferramenta de inteligência artificial fosse alimentada de forma mais genérica, usando uma variedade de informações disponíveis na internet?
Acontece que, em junho de 2020, uma empresa chamada OpenAI, focada em pesquisa na área de inteligência artificial (IA) e fundada em 2015 por um grupo de empresários e pesquisadores de tecnologia, incluindo Elon Musk, Sam Altman e Greg Brockman, lançou uma ferramenta chamada ChatGPT cuja proposta é mais ou menos essa. O ChatGPT é um modelo de linguagem natural, um programa de computador inteligente treinado com milhões de textos disponíveis na internet, projetado para responder perguntas e gerar respostas de forma tão natural que é indistinguível de um ser humano. O ChatGPT é capaz de compreender e gerar texto em vários idiomas e pode ser usado em uma ampla gama de aplicações, incluindo chatbots, assistentes virtuais, sistemas de resposta automática de e-mail, entre outros. Ao entrar na plataforma, diretamente pelo seu navegador, você vai se deparar com uma tela simples com um espaço para você digitar o que você gostaria.
Para ilustrar, vamos considerar um exemplo prático: suponha que você esteja em busca de uma receita para fazer um bolo vegano. Normalmente, você iria ao Google e pesquisaria por “receita de bolo vegano”. Em seguida, uma lista de links seria exibida, exigindo que você clicasse em várias páginas diferentes, cada uma com um texto introdutório, várias propagandas e um grande desperdício de tempo na seleção da página que fornecesse as informações desejadas. Com o ChatGPT, será diferente. Na verdade, eu mesmo digitei “Eu quero uma receita para bolo vegano”. E como você pode ver na imagem, “ele” me respondeu.
Repare no início da resposta: “Com certeza! Aqui está uma receita de bolo vegano simples e deliciosa: ” e colocou os ingredientes e modo de preparo logo abaixo, finalizando com um “Espero que você goste desta receita! ”. É assustador a naturalidade com que a inteligência do programa me respondeu. Parece muito com a forma que um ser humano falaria. E tudo de forma direta, sem cliques adicionais, sem propaganda, sem dezenas de opções de site para eu escolher. Apenas me deu a informação que eu queria.
Aqui você começa a entender por que o Google já está preocupado com a ferramenta. No momento em que obtenho o resultado de forma direta, deixei de clicar em vários sites e ver várias propagandas nesses respectivos sites, que é exatamente de onde vem a monetização do Google. Perceba que quebrei toda uma cadeia de navegação, pois deixei de gerar “cliques” pela internet. E por que isso é importante? Porque, apesar de você acessar gratuitamente o Google, toda vez que pesquisa algo, deixa um rastro de dados para receber propagandas, e as empresas pagam ao Google por isso. No momento em que uma plataforma “mastiga” a informação e já traz de forma direta aquilo que pedi, toda uma cadeia de negócios fica ameaçada, e é por isso mesmo que o ChatGPT começa a incomodar as Big Techs (empresas gigantes de tecnologia como Google, Facebook e outras).
Mas a verdade é que o ChatGPT não fornece apenas receitas. Ele vai muito além!
Experimente pedir a ele, por exemplo, que reescreva um texto que você gerou com mais emoção. Isso mesmo: mais emoção! E ele o fará brilhantemente. Peça a ele que resuma um artigo qualquer para você. Que te explique em poucas palavras o que significa Inteligência artificial, que gere um roteiro de uma peça de teatro para ser apresentado por crianças em uma escola. Que escreva um trecho de código para ser usado em um programa de computador. Que escreva um texto sobre a violência contra a mulher, ou mesmo um artigo completo sobre a Revolução Industrial. Enfim, as possibilidades são infinitas! Por isso mesmo, está gerando tanta preocupação pelo mundo, impactando todos os setores, incluindo a educação. Pense no estudante mais preguiçoso que certamente vai pedir que o ChatGPT faça aquele trabalho da escola sobre geografia, ciências ou qualquer outra coisa. De fato, uma redação feita no ChatGPT já foi aprovada no Enem! Estamos falando de uma espécie de oráculo que você acessa do seu computador ou celular e sabe quase tudo sobre tudo. É realmente assustador e igualmente fascinante.
Mas essas ferramentas de Inteligência artificial generativas, como são chamadas, não param por aí. Algo importante a ser dito é que o ChatGPT não é a única ferramenta capaz de gerar coisas que pedimos em tempo quase real. Na prática, ele (ChatGPT) lida com textos. Mas e se precisássemos, por exemplo, de uma imagem de um elefante de terno (Isso mesmo, de um elefante de terno)? O caminho natural seria buscar em várias plataformas pagas de banco de imagens uma imagem parecida com o que você está precisando ou contratar um designer para fazê-la. Isso foi ontem!
Agora, usando uma plataforma de inteligência artificial focada na geração de imagens, meu filho de apenas 13 anos criou, em poucos segundos, uma imagem de um elefante de terno, tal qual eu precisava. De fato, toda vez que preciso de uma imagem nova, recorro a ele, que já se tornou meu “engenheiro de prompt”, uma das novas profissões que esse tipo de ferramenta já está demandando no mercado de trabalho. Veja aí o resultado gerado:
Não sei se ficou claro para você, mas meu filho de 13 anos literalmente entrou em uma plataforma de inteligência artificial chamada Midjourney, deu a descrição do que eu queria, e em 2 ou 3 minutos essas imagens estavam na tela para que eu pudesse usá-las como bem entendesse, já que conteúdos gerados por inteligência artificial não têm direitos autorais. Mais uma vez, um alerta foi gerado para profissionais e plataformas que lidam com geração e venda de imagens.
Na última semana, uma dessas imagens geradas por uma inteligência artificial gerou bastante polêmica, porque mostrava o Papa Francisco em uma roupa “estilosa” pousando em uma foto ultrarrealista. A polêmica foi gerada porque ninguém tinha como saber que aquela imagem não era real. O Papa, de fato, nunca usou aquela roupa. Acreditem ou não, essa foto foi gerada por uma inteligência artificial e viralizou quase que instantaneamente na internet, levando o próprio Papa a pedir ética no uso desse tipo de ferramenta.
Além das plataformas de inteligência artificial que geram texto e imagem, temos também aquelas utilizadas para gerar música, apresentações em PowerPoint, vídeos, logos, voz e muitas outras. Recentemente, um portal chinês de notícias substituiu seu âncora (o apresentador principal do telejornal) por uma “pessoa virtual ultrarrealista” gerada com inteligência artificial. Estamos vivendo uma era sem precedentes de desmaterialização em massa de diversas profissões (e consequentemente, de pessoas).
Além disso, infelizmente, o chatGPT também está sendo usado para gerar receitas de bombas, escrever textos para dar golpes pela internet e todo tipo de coisa reprovável. Estamos falando de ética no uso dessas ferramentas (ou nesse caso, a falta dela), o que levou Elon Musk e vários pesquisadores seniores a escreverem uma carta pedindo ao mundo que “desacelerasse” por seis meses o desenvolvimento do chatGPT4. Nessa mesma linha, o Goldman Sachs, um grupo financeiro multinacional sediado no Financial District de Nova York, publicou uma nota afirmando que 300 milhões de empregos serão afetados pela inteligência artificial nos próximos anos e 7% dos empregos podem ser eliminados muito rapidamente. Junto com isso, também tivemos artigos no New York Times, Washington Post e outros jornais mostrando a inteligência artificial como algo a ser temido, e graças a toda essa imprensa negativa, uma pesquisa recente mostra que 91% dos cidadãos comuns acreditam que a inteligência artificial fará mais mal do que bem para a sociedade.
Algumas considerações finais:
A tecnologia é uma ferramenta, e como toda ferramenta, depende de quem a utiliza. Você pode usar um martelo para fixar um prego ou para atacar alguém. Se dermos uma volta na história, concluiremos rapidamente que quase toda tecnologia criada já foi usada para o mal. O WhatsApp vive sendo usado para dar golpes. O e-mail é usado para roubo de identidade e distribuição de vírus de computador. Os telefones celulares podem ser usados para vigilância e, vez por outra, a internet é usada para disseminar notícias falsas (fakenews) que desestabilizam governos e interferem até em processos eleitorais.
É claro que todas essas preocupações com a I.A. (inteligência artificial) são justificadas. Mas a verdade é que qualquer nova tecnologia sempre trará resultados imprevisíveis. Ou alguém conseguiu prever aplicações como Uber, iFood e uma centena de aplicativos que utilizamos no dia a dia, após a invenção do Smartphone?
A inteligência artificial em si não é nem boa nem má – o perigo está em como decidimos utilizá-la. Há pouco tempo, quando inventaram a calculadora, um grupo de professores saiu às ruas para proibir o uso do equipamento nas escolas, porque se achava que isso prejudicaria o aprendizado dos alunos. A verdade é que toda nova tecnologia assusta, mas proibir seu uso nunca foi resposta a longo prazo. É preciso lembrar que a mesma tecnologia que criou a bomba atômica também é usada no tratamento do câncer, o que nos leva a concluir que nossa humanidade é o elemento mais importante na equação. Por isso mesmo, é preciso educar nossos jovens sobre essas novas ferramentas e mostrar como utilizá-las corretamente.
A I.A. pode ser a chave para impulsionar o nosso futuro, aumentando a eficiência dos processos e trazendo abundância à sociedade. Não estamos em uma corrida contra as máquinas, mas sim lutando lado a lado com elas. Mesmo com todo o medo e apreensão que isso possa trazer, nunca podemos esquecer que a tecnologia nos deu mais tempo de vida, mais conhecimento, mais escolhas, e o mais importante: meios para escrever e disseminar sobre como preservar a nossa própria humanidade.