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80 anos da proibição do futebol feminino no país

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Seleção brasileira no Torneio Internacional realizado em dezembro de 2013 em Brasília. Foto; Larissa Leite

Diziam que elas não eram compatíveis com o futebol. Sem o decreto, o mundo pode aplaudir Marta, eleita por cinco vezes a melhor jogadora do mundo

Você sabia que as mulheres no Brasil eram proibidas de jogar futebol? Pois é, hoje, 14 de abril marca a data dos 80 anos do Decreto-Lei que barrou as mulheres de entrar em campo. Felizmente, a determinação de Getúlio Vargas perdeu a validade, e a história do futebol feminino recomeçou a ser escrita nos anos de 1990.

A jornalista Olga Bagatini, do Museu do Futebol, relembra que a proibição se deu porque o futebol era incompatível “com as condições de sua natureza”, como dizia o Decreto-Lei. 

“Foram quatro décadas de banimento cujas consequências são sentidas até hoje, passando pelo atraso no desenvolvimento da modalidade que provoca disparidades de tratamento, cobertura, salário e premiação até o preconceito que impera no imaginário social e coloca o futebol como um espaço que não pertence às mulheres, sejam elas atletas, treinadoras, gestoras, torcedoras, árbitras ou jornalistas”, conta.

Sem registros, não é possível determinar quando foi realizada a primeira partida de mulheres no país. Mas existem indícios de que na década de 1920, elas entraram em campo, as “senhoritas dos bairros da Cantareira e do Tremembé”, em São Paulo e também há evidências no Rio Grande do Norte.

Na década de 1940, um amistoso provocou um rebuliço. Olga destaca que o jogo entre Casino Realengo e Brasileiro foi classificado por José Fuzeira, da Gazeta, como “um verdadeiro atentado à educação física, ao esporte e mesmo à organização esportiva de São Paulo”.

Futebol Feminino nos anos 1990

Na década de 1990, a Fifa criou a primeira edição da Copa do Mundo Feminina. Em 1996, o futebol feminino foi incluído como modalidade Olímpica. A seleção brasileira com nomes como Sissi, Roseli e Kátia Cilene terminou a competição em quarto lugar. Com a atacante Mia Hamm, uma das principais jogadoras do país, as americanas foram campeãs.

Na segunda parte da década de 1990, o futebol feminino ganhou um campeonato no país, em São Paulo. E um nome precisa ser mencionado ao falar de mulheres jogando bola: Luciano do Valle. O narrador foi um dos grandes apoiadores das meninas e levou os jogos para a TV aberta na Bandeirantes.

Mas a luta contra o preconceito não acabou ali. Olga conta que “Deu certo por algum tempo. No entanto, o desenvolvimento barrou no machismo dos gestores da (todos homens, claro), que além do completo descaso com os times femininos, a ponto de oferecer as sobras dos uniformes do masculino para elas e diárias risíveis para defender a seleção, também destilavam preconceito sobre sua aparência e sexualidade e tentava encaixar as jogadoras dentro de um padrão de beleza imposto.”

Marta, eleita cinco vezes a melhor do mundo pela Fifa. Foto: Larissa Leite

Em 2007, a seleção brasileira contava já com o talento de Marta e alcançou a final da Copa do Mundo, mas ficaram com a prata. Anos mais tarde, na Olimpíadas do Rio, a seleção ganhou um destaque e o carinho dos torcedores, mas “mas foi só Neymar e seus companheiros reencontrarem o caminho da vitória para o futebol feminino cair no esquecimento outra vez”, lembra Olga.

“O futebol feminino deve — e tem total capacidade — de construir sua própria história e buscar suas próprias estrelas. Tudo que a gente pede é respeito. Deixa ela jogar, treinar, comandar, torcer, comentar, apitar e narrar”, defende Olga Bagatini.

Seminário “Proibidas e Insurgentes”

Entre as programações do Museu do Futebol está o seminário “Proibidas e Insurgentes — Os 80 anos da lei que vetou mulheres no esporte”, composto de cinco módulos e programação completa está disponível no site.

No dia 27 de abril, o Museu lançará um um audioguia com 100 anos de histórias de mulheres do futebol. Duas exposições podem ser acessadas online: Visibilidade para o Futebol Feminino e Mulheres, Desobediência e Resiliência.

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