Estamos com aproximadamente dois meses do isolamento social e isso me fez refletir sobre a felicidade. Tenho percebido, especialmente depois de uma pesquisa que fiz em meu facebook, que a maioria das pessoas estão sentindo dificuldades emocionais diante da pandemia.
Para começar, quero lembrar uma música do Zeca Baleiro, “Piercing“ que sempre me toca muito. Nela ele diz o seguinte:
O presente não devolve o troco do passado
Sofrimento não é amargura
Tristeza não é pecado
Lugar de ser feliz não é supermercado
Sabe, são dois meses que estamos vivendo como se fosse um regime prisional, onde as pessoas estão experimentando novas formas de ver e sentir o mundo, dores estão sendo descortinadas e problemas estão ficando cada vez mais presentes, seja fruto da relação com o Outro, seja aquele oriundo da relação consigo mesmo.
Tenho para mim que a verdadeira felicidade é barata, não custa dinheiro algum, pois ela reside dentro de nós. O nosso grande problema é que gostamos de pagar mesmo é pela falsificação dela, depositando em coisas essa pretensa felicidade. Muito incentivado por um modelo de vida em que ser feliz é ter e não ser.
Quantas vezes eu ouço as pessoas falarem que quando tudo isso passar, vão passear no shopping, vão para bares, academias, salões de beleza e que isso trará a felicidade. Mas como diria Humberto Gessinger do Engenheiros da Hawaii:
Mas o quase tudo quase sempre é quase nada
E nada nos protege de uma vida sem sentido
O quase tudo quase sempre é quase nada
E nada nos protege de uma vida sem sentido
Esse fragmento da música Muros e Grades leva à reflexão que esse isolamento tem descortinado, isto é, exatamente o vazio de uma vida sem sentido, e que como dito pelo Zeca Baleiro, nas coisas não se encontra a felicidade, como estamos sem acesso ao mercado, acabamos por nos esvaziar de sentido. Isso então me lembra Fernando Pessoa:
“Segue teu destino
Rega as tuas Plantas
Ama tuas rosas
O resto é a sombra de árvores alheias”
A felicidade é um cultivo interno seu, não é em qualquer outro lugar que você vai encontrar, ela repousa dentro de você. A maior prova disso é que dizemos “estou feliz”, “sou feliz” e não “tenho felicidade”, por isso se tanto se diz o óbvio, não se compra felicidade… Apesar do mundo querer lhe convencer do contrário, pois para ele:
Sentimento pegue e pague
Emoção compre em tablete
Mastigue como chiclete
Jogue fora na sarjeta
A felicidade também não é perene, é um estado passageiro, haverá momentos de tristeza, momentos de tempestades, mas em toda chuva, toda trovoada, ao final dela vem o arco-íris e nos enche de vida novamente, assim como a felicidade não é perene, a dor também não é.
Freud em suas lições dizia que não existe receita para a felicidade, se existisse, certamente não encontraríamos pessoas perenemente felizes e isso simplesmente não existe.
Uma notícia ruim compõe essa coluna: se veio atrás de felicidade, infelizmente não encontrará aqui, mas em compensação posso lhe trazer algumas certezas: a primeira delas é que felicidade não está no supermercado, ela depende de você e somente de você.
Quero também adicionar que a felicidade é um estado momentâneo que se alterna com momentos não tão felizes ou mesmo mais tristes. Neste sentido, busque internamente aquilo que verdadeiramente faz você feliz. Aliás, sair em busca da felicidade pode ser, além de gratificante, um bom remédio, pois nos dias tristes, os momentos de felicidade servem, através da saudade que esses despertam, para dar força e acalmar o coração durante a tormenta
Como disse antes, sempre esquecemos que felicidade não se compra e por conta disso pagamos caro, muito caro, por essa busca errada, às vezes pagamos com dinheiro, em outras vezes com nosso coração. Termino com Clarice Lispector:
Sou o que quero ser, porque possuo apenas uma vida e nela só tenho uma chance de fazer o que quero.
Tenho felicidade o bastante para fazê-la doce dificuldades para fazê-la forte,
Tristeza para fazê-la humana e esperança suficiente para fazê-la feliz.
As pessoas mais felizes não tem as melhores coisas,
elas sabem fazer o melhor das oportunidades que aparecem em seus caminhos.
Sigam o autor no Instagram @robsonpribeiro e no Facebook @robsonpaiva